O bicho de sete cabeças

O sol hei de brilhar mais uma vez na janela e a luz de chegar a mente de Pérsio, que filtra, estrutura, distorce tudo que ele conhece e apresenta a realidade pura e imperfeita. Na mesma janela, ao som de Bob Marley os três pequenos passários premediam o futuro-presente da arte do cirurgião, o bater das asas deles são uma mensagem em que o vento é o mensageiro levando a música para todos aqueles que sabem ler e ouvir, e ecoar em todos os palcos da mente sem som. Ele já está posto desde o amanhecer, mas lhe faltam os materiais para a arte que vai acontecer, então Pérsio e Degas vão em busca dos materiais em um ventaval a favorecer, sentindo cada passo no chão e o viver do vento do destino aparecer, em busca daquilo que os falta veem doentes, pessoas na espera de sua alma gêmea ou amores efêmeros, cafés amargos para uma vida cheia de doçura, cafés doces para vidas amargas, casais amargurados com filhos perfeitos, egos desmedidos com busca de aprovação alheia, olhares cheios de dores e bocas cheias de felicidade. No fim, tudo certo para Pérsio e Degas.

De longe a clínica do Chico, o cirurgião do som, era evidente, não se tratava de local moderno com tecnologia de última ponta, mas se tratava de um espaço que externaliza toda a alma de Chico. A alma e a humildade de Chico colocadas a prova, mestre da artes ocultas do som, doutor na filosofia dos sinais musicais e phd na vida. Pérsio chega com Degas e duas doentes ao cirurgião uma morena californiana e uma garota com suas mechas Hermes esmeralda, elas iam busca da ressureição, a dona do cabelo hermes esmeralda já vinha de inúmeras cirurgias que forma mal feitas, externamente a reflexão de sua beleza iluminava os palcos sem cor e ressonava igrejas vazias, mas internamente apresentava as dores do mundo,todo momento que falava o mais profundo de seu som gritava, gritava, gritava, mas ninguém sabia escutar toda a dor, gritava pela voz por ajuda, gritava por seus olhos por dor, mas niguém escutava. Muito desses cirurgiões que ela passou eram inexperientes, outros a pensar na mola do mundo, outros esqueceram da arte da cirurgia. O grande cirurgião dono da arte de salvar o som e a vida, Chico, viu o profundo dela, entendia cada grito, ele viu o grito com os próprios olhos. Chico, o cirurgião, que domina as artes ocultas do som e do pensar deu o diagnóstico e já estava com os materiais trazidos por Pérsio e Degas, tudo já estava pronto para a primeira cirurgia, a dona das mechas hermes esmeralda já estava pronta e Degas e Pérsio viram todo o processo de Chico, ele manuseava com delicadeza e sutileza cada processo, explicava cada procedimento como se explicasse para crianças como amarrar os cadarços e a importância de cada volta e laço, assim ele ensinava sua arte e como salvar a vida da dona de mechas Hermes esmeralda, deixou exposto o braço da dona e mostrava as depressões e planíces que haviam se formado, batia com um martelo em cada parte do braço para estabilizar as futuras cordas para que o som e a beleza não se desmanchem com a poeira da ampulheta, e preenchia algumas depressões com o som da verdade. Nada disso é um bicho de sete cabeças dizia a Pérsio e Degas. Nada na vida é um bicho de sete cabeças dizia, as coisas podem ser simples só precisa usar as lentes certas.

Continuava sua arte e agora mostrava o coração da dona de mechas hermes esmeralda, descobriu que havia um problema de válvula e energia, esse era um motivo a mais de tanta dor, havia necessidade de preencher o coração com novos amores e novas músicas,e renovar toda a energia para marcar cada passo e métrica do som. Só assim ela conseguiria se adequar a composição do grupo e expressar toda o fulgurar do espírito. Chico já terminara a primeira cirurgia, não foi um bicho de sete cabeças foi rápido, sútil e eficaz. Chico cirugião do som e das almas. Apesar de velha a morena californiana não possuía tantos problemas, ela precisava fazer uma troca rápida para seu ressurgimento. Chico ensinava e mostrava o sentimento real de tudo isso, assim como a dona das mechas Hermes esmeralda, ele deixou o braço da morena exposto para demonstrar a verdade e colocar novas cordas, Pérsio e Degas já sabiam do parecer. Chico, o cirurgião das almas e do som, terminava a sua última cirurgia do dia em busca de novos ares e saberes, ao som de flautas e sabiás Chico afinava a corda bamba da dor e compreensão com sua arte, o belo foi posto e o espírito alcançava o ares da própria planície e uma imersão do som.

Depois do repouso, depois da cirurgia, chegava o momento de Pérsio e Degas deixarem a clínica do som e do espírito do Chico e seguirem para novos ares. Todo ser necessita velejar por novos mares e espíritos, assim terminava a despedida e o aprendizado, que Chico o cirurgião do som e das almas deixou. Todo ser precisa alimentar sua alma, meu caro leitor.