Porque hoje é sábado

Sábado à noite, sentados no sofá, viam a programação repetitiva da TV. O controle na mão dele não parava de buscar alguma inatingível novidade atraente que pudesse quebrar aquela monótona situação de espera. Ela fazia tricô enquanto olhava de lado com indisfarçável inquietação. Lá fora chovia brandamente e as gotas escorriam pela janela de vidro. E era tudo.

Por um momento se olharam desafiadoramente e numa atitude simultânea de rasgada contrariedade e insatisfação desligaram a TV e vestiram roupas de alegre elegância, que há muito esperavam no armário. Ela usou seu perfume preferido, exalando um certo ar de sensualidade. De repente se viram resgatando o que tinham de melhor: a alegria e vontade de viver, reagindo à mesmice a que estavam perigosamente se acostumando.

Saíram para um restaurante onde pediram pratos especiais, tomaram espumante e ouviram música . Novamente felizes se olhavam e se viam conversando alegremente e, em gestos ao acaso, se tocavam as mãos sedutoramente. Antes de sair, o trio musical tocava New York, New York.

Chagaram em casa alta madrugada e entraram dançantes e cantarolando a última canção do rádio. Num volteio pela sala se esbarraram num abraço que os envolveu num impetuoso reencontro.

O domingo amanheceu ensolarado.