Sentir ou não sentir? Eis a questão

Shakespeare terá que me perdoar de novo, mas foi a melhor maneira que encontrei para dar voz ao dilema que me afligia.

Será que, num mundo estranho onde as pessoas se odeiam por nada ou amam intensamente a ponto de se martirizar (para mim isso é obsessão, amor é outra coisa - mas isso fica para o próximo texto), vale cultivar sentimentos? Vale se entregar a emoções que provavelmente não nos levarão a lugar nenhum? Não seria mais fácil e, porque não dizer, seguro ser insensível?

Não sei! Há certos dias, certas situações que me fazem pensar que certas emoções, certos sentimentos se fazem absolutamente desnecessários, momentos em que eu adoraria ter o famigerado coração de pedra atribuído pelos astrólogos aos bons capricornianos (sou uma capricorniana nutella)...

Às vezes é tão estranho ser uma pessoa de intensidade, num mundo de pessoas mornas que vivem para cumprir suas metas absurdas, escondidas atrás de seus castelos de sonhos, entrincheiradas atrás de seus próprios medos... As pessoas são otimistas e ousadas até a página dois...

Apesar de ser uma pessoa persistente (eu diria teimosa, mas enfim...), há horas em que tudo que eu mais desejo é desistir, não sentir nada, ser habitada pelo mais intenso e completo vazio...

Mas aí ouço a Gal cantando em meu ouvido "Socorro, não estou sentindo nada... Socorro, alguém me dê um coração que esse já não bate nem apanha..." e volto a refletir... Talvez realmente seja necessário sentir (não sei exatamente o que...).

E assim me pego pensando em com seria ruim ser vazio... Será que os vazios são capazes de sorrir (sorrir é tão bom)? Será que os vazios se sentem felizes? Será que os vazios são capazes de amar (há controvérsias sobre o fato de que os cheios saibam realmente amar)?

Acho que é preciso aprender do que devemos nos preencher, entender que nem todo sentimento deve ser cultivado. Há aqueles sentimentos que devem ser literalmente cortados quando ainda são mudas porque se enraizarem... o estrago pode ser irremediável.

CULPAS, MEDOS, TRISTEZAS e até certos amores são desses sentimentos perigosos, matam nossas melhores qualidades, aprisionam de tal forma que nos impedem de ver as bobagens que estamos fazendo, as oportunidades que estamos perdendo. Ficamos tão imersos neles que quando nos damos conta já se tornaram verdadeiras sombras no nosso caminho e nós verdadeiras sombras do que poderíamos ser.

Há sentimentos que precisam crescer com orientação (sabe aquele pezinho de tomate que a gente põe uma haste para crescer na direção certa? - é bem desse jeito). Um bom exemplo é a PACIÊNCIA, tem gente que é tão paciente que sofre, sofre, sofre, esperando uma mudança daquela situação e nem consegue perceber que tudo que ela precisava era dar uma belo chilique que num instante a situação mudaria...

Outro exemplo de sentimento que deve crescer sobre vigilância (extremaaaaamenteeeeeeee acirrada, tipo a CIA vigiando possíveis terroristas) é a PERSISTÊNCIA. Se ela cresce demais, sem as devidas podas, vira teimosia, e aí você se vê insistindo em situações que não tem a menor possibilidade de darem certo, todo mundo a sua volta está vendo (no fundo você mesmo também está) que não vai a lugar algum, mas você está feito um tonto insistindo, teimando, esperando. (Tô fora! Teimosia nunca mais)

Até para o AMOR há que se impor limites. É preciso observar a presença de outros sentimentos importantíssimos para saber se pode crescer ou se é melhor cortar da raiz. O AMOR (que fique claro que estou falando aqui do amor de casal - aquele que não existe no modo incondicional) só pode crescer se houver RESPEITO, COMPANHEIRISMO, HONESTIDADE e principalmente RECIPROCIDADE (Platão me perdoe... mas amar sozinho não é legal). Do contrário é melhor fugir ou você estará vivendo um daqueles sentimentos perigosos dos quais eu já falei aqui nesse texto.

Depois de tanto falar, deu pra ficar com a certeza de que essa agricultura de sentimentos não é uma tarefa muito simples não. Dá um trabalho, muitas vezes não dependemos só de nós para que o sentimento possa crescer, há que se buscar adubo em outro lugar e tudo se torna cada vez mais complexo.

Volto a minha pergunta do título: Sentir ou não sentir?

E você o que me diz?

Josiane Vieira
Enviado por Josiane Vieira em 10/08/2023
Código do texto: T7857760
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