Filho de que mãe?

Entenda como quiser, mas hoje andando no meio de gente, pensei estar ausente da realidade, que tanto nos cerca.

Vi tanta gente. Gente que ia e gente que vinha. Gente nos pontos de ônibus e gente que longe da faixa de pedestres estava se preparando, digo se arriscando pra atravessar.

Quando, sem me dar tempo pra pensar, um rapaz me abordou e me mostrou um cartão de visita ao dentista, onde dizia Dr. Fulano de tal, especialista em implante, especialista em clareamento dental, entre outras peculiaridades. Acontece, que eu estou desempregado e sem dinheiro pra pagar, nem dava pra sonhar. No entanto,quando ele se preparava prá falar, com anedota de vendedor, a fim de me conquistar; como eu estava com pressa e um imenso fone de ouvido, ouvindo qualquer música, diferente das tocadas nas rádios locais, apenas acenei com a mão, que estava legal e fui em frente . Já acostumado a tantos nãos, ele nem se ofendeu e continuou a sua jornada.

Eu que ia , foi quem deu uma desacelerada e parei no meio daquela caminhada. Não em vão, porque percebi, o que talvez soe aos olhos alheios como certa naturalidade, ou quem sabe certeza de impunidade, ou ainda não querer se envolver na polêmica dos dias, em dias dessa urbanicidade.

Nessa cidade, onde ônibus, trens e metrôs conciliam facilidades, onde disse, quem cantou e já adormeceu na morte, ser essa a capital das capitais, melhor cidade da América do Sul. Que como muitas, anda esquecendo um pouco a humanidade.

Não sei você, que estar no seu habitat, porque cada qual, que vem do norte, tem um olhar pra luz que vem do sul. E eu, embora admirando o legado tecnológico, contrastando com o legado dos barões do café e tantos outros legados.

Com o meu açaí, carimbó no sangue enxerguei uma moça, com uns vinte e poucos anos arrastando uma criança a dizer:

- seu filho da mãe, seu filho daquilo, seu filho disso...

Num tratar, de distrato, ascendendo a violência, que ao mesmo, que me mexeu, me paralisou pela falta de carinho e amor, com aquele pequeno, que amanhã será pai e avô. Responsável por formar, quem sabe outra criança. Bem como as nossas escolas, colégio, sei lá... comparado ao meu tempo, parecem mais cadeias sujas e feias, mas isso é outra história.

Se parar para ver o quadro, que eu vi, há que se dizer, que pariu, porque o garoto era a lata da moça. Mas ela, como suposta mãe, imagem de Maria...infeliz seria a coincidência. Que a gente nesses dias, apesar de tantas leis, leis muitas das vezes desiguais, temos que suportar.

Talvez o que aqui expunha, possa desencadear muitos outros pensamentos, que poderão me fazer rir ou chorar, mas o fato que nas horas que se seguem, apesar da minha omissão no local, me dou conta de tantos desafios, que nesses dias, em tantos dias criamos por entender, que a minha molestia, a minha ideia de mundo, a minha dor, se não compreendida como quero, se puder tenho que impor. E assim, se entrega produtos e produtos nas prateleiras das nossas vidas, das nossas casas, dos nossos ambientes, para a nossa história.

É tanta democracia, que nem conseguimos falar, de tanto que se vale o que se pesa. Mas o futuro, o futuro do ser humano tá lá , criando rivalidades, ódio, violência e desamor, mais próximo da certeza de incivilidade, que a esperança pra mudar.