Tom

Final dos anos noventa, recém separada, eu tinha uma companheira muito forte a bicicleta Caloi Cruiser, que andava do bairro do Imbuí ao Itapuã na volta parava na praia do "Oi", Corsário.

A cidade bastante movimentada, mas a praia estava vazia era uma terça-feira, tranquei a bike num dos bancos da Barraca do rasta Jamaica porque a do lado não permitia e fui tomar meu banho de mar.

Naquele tempo eu não respeitava o mar até porque me achava, sabia nadar bem, nadei um pouco e foi ai que percebi uma cara rondando a bicicleta, sair e fui a barraca do Salvamar, conversei com um Salvavidas que de pronto foi lá e fingiu que a bicicleta era dele, o cara então se saiu.

Comecei conversar com ele, passei meu número de telefone ele ficou de me ligar, ele era um gato, confesso que fiquei encantada pelo moço bonito.

Chegando em casa, a mesma rotina de sempre lógico cuidar das meninas assistir um pouco de TV e dormir.

Para minha surpresa ele me ligou, conversamos e marcamos para o outro dia. Contei para ele uns perrengues que estava passando ele me ajudou, eu achei muito massa!

Daí em diante eu namorava ele e ele dizia ser meu namorado.

Uma quinta-feira saímos de casa de bicicleta, ele ia ter plantão no Farol de Itapuã, fomos nadamos até o fundo e tal, o dia foi tranquilo.

Porém quase no fim da tarde aparece uma loira falsa com mais outra toda vestida, na praia? Achei estranho e o mais estranho ainda era o olhar dela para ele, que resmungou umas coisas incompreensíveis e o seu semblante mudou, nessas alturas eu já estava apaixonada (mulher é um bicho besta).

No sábado fomos a um aniversário infantil, nos divertimos bastante, mas percebi que ele começou uma fase de críticas, eu amo usar vestidos, ele criticou disse que deveria usar jeans, que era coisa de mulher prática.

Ainda assim seguimos juntos, o cumulo foi no Natal ele trouxe um pão caseiro integral, íamos passar na casa de um amigo do prédio que morava no segundo andar, enrolei o pão bem bonito como oferenda para a festa, ele retrucou, meu pão não é para amanhã no plantão.

Comecei a achar que isso não ia adiante, antes do final do ano ele terminou comigo, fiquei arrasada!

De vez em quando me ligava ainda pra saber como eu estava.

Um dia, ele disse que iria me visitar, foi quando ele veio me contou a verdade, aquela oxigenada da praia era ex namorada, que morava no IAPI, também era separada, tinha uma filha, e estava grávida dele que eles decidiram abortar e por isso ele voltou para ela, isso foi em janeiro.

Verão, Salvador fervia! Um dia eu e uma amiga marcamos com ele para o ensaio do Olodum, que ainda era na rua, foi muito legal!

Mas ele continuava com a loira, não havia mais intimidade entre nós, dai antes do carnaval ele foi lá em casa de surpresa estava de folga, eu estranhei segundo ele tinha acabado o romance, dormimos juntos, isso não foi bom, voltei a me iludir.

Na sexta do carnaval ele marcou para nos encontrarmos e acompanhar a saída do Olodum, e ele queria apresentar um amigo a minha camarada que por sinal se acertaram, esse rapaz morava nas proximidades da Gamboa mais perto do Solar do Unhão, dormimos lá foi uma experiência incrível ouvindo o movimento do mar.

Ele não quis ir alegando o trabalho, e se saiu da gente sem nem dar satisfação, ainda lembro a cena ele adiantando o lado se sumindo na multidão.

Daí comecei a desistir dele, matando ele aos poucos doía mas fazer o quê?

Ficar sofrendo por quem não me quer?

Em março por ocasião de compras de livros precisei ir na Avenida Sete, quando me dei conta estava na porta do pensionato onde ele residia.

Quando subir que buzinei e abriram a porta estava ele duas senhoras que já as conhecias as donas do recinto e ele com a cara de quem havia acabado de acordar e a loira, chorando dei um oi amarelo disse que estava de passagem e que já estava indo.

Contudo, entendi todo o desenrolar da situação, ela estaria grávida de novo e como sabemos qual seria o final da história.

Enfim foi ai que tomei um chá de realidade e cortei esse mal chamado Tom, mas continuamos amigos e finalmente ele se saiu daquela coisa. Conseguiu vencer na vida, cursou Educação Física, passou para efetivo no Salvamar e continua lá.

A última vez que o vi foi em 2003, mas tenho notícias dele pelos outros Salvavidas e para mim foi bom saber que ele está bem!

O bom dessa história foi que ele me ensinou a amar a cultura Afro-brasileira e mais precisamente o Olodum!

E plantei esse amor no coração de tantas outras pessoas, viva o Olodum!

Clara de Almeida
Enviado por Clara de Almeida em 29/08/2023
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