Arrependimentos

Eu sempre me senti mal por não ser uma boa pessoa. Ver os outros sofrendo por minha culpa era uma sensação devastadora, capaz de manchar minha alma e encher-me de desespero. E pensar na verdadeira razão da dor que me consumia como sendo puro egoísmo de querer ser considerada justa na pós-vida só tornava meu pecado maior.

 

Não era religiosa, mas tinha fé. E a fé que possuía impedia-me de sentir conforto na desgraça e injustiça alheia. Queria pensar comigo mesma que não era alguém cruel e minhas maldades eram involuntárias. Apesar disso, tinha consciência de que minha inveja e meu egoísmo estavam muito acima do saudável.

 

Talvez, se eu conseguisse tornar-me mais rígida e conhecesse melhor os ensinamentos da crença que alegava seguir, pudesse engrandecer como pessoa. Esse era o meu maior desejo. Entretanto, minha família não tinha essa mesma vontade. Pelo contrário, às vezes faziam-me sentir vergonha do que acreditava.

 

A intolerância religiosa seguia em alta como sempre foi. Todavia, se no passado minha religião era a oprimida, a Terra deu algumas voltas e transformou-a em opressora. Havia todo tipo de absurdo defendido por pessoas que se diziam crentes, tal fato só servia para manchar a reputação de algo que pregava pura e simplesmente o amor.

 

Eu queria conseguir transformar o fogo dentro de mim em ação, assim depois não viraria lamento. Contudo, não passava um dia limpo em que não magoei ninguém. Eu sentia-me quebrada por trair meu código de ética e temia as consequências do ato em longo prazo. Fatalmente, meu jeito de ser afastaria as pessoas de mim porque ninguém gostaria de estar com uma pessoa tóxica a ponto de sempre tirar sua alegria…

 

De todos os meus erros, o mais terrível foi destratar alguém que sempre foi legal comigo. Havia um menino em minha turma da escola o qual eu odiava, pior que isso, sentia nojo dele. Qualquer observador externo poderia perceber meu desprezo. Todavia, não era recíproco.

 

Ele sempre foi gentil comigo, e a professora sempre fez questão de ressaltar esse fato. Na época, eu pouco me importava com sua opinião sobre mim. O que gostaria mesmo era nunca mais vê-lo. Porém, depois vi que cometi o pecado da ingratidão. Gostaria de ter a oportunidade de encontrá-lo novamente, a fim de desculpar-me. Nunca esqueci seu rosto nem nome, talvez nunca esquecesse.

 

Se você teve a chance de conhecer Lionel Gomes, por favor compartilhe meu número de celular com ele…