Interesse

Escuto as pessoas dizerem que relacionamentos baseados em interesse não têm futuro, não vão para frente, não vingam! Ouvindo isso, assimilando cada palavra deste conceito, a única coisa que me vem à mente é: discordo plenamente!

Em outra digressão afirmei que o ser humano como ser sociável está sempre em busca de se relacionar. Aquele era outro contexto, mas serve para este também.

Como encaixar o título desse texto e essa ideia aparentemente contrastante?

Vejamos…

Ao se relacionar amorosamente com alguém o ser humano procura quem o complemente, fascine, desperte nele um desejo e, bem ... está aí o interesse!

Ninguém em sã consciência irá buscar um(a) parceiro(a) que não lhe desperte interesse, seja financeiro, sexual, sentimental, físico, para se relacionar amorosamente. O que fazer com alguém que em nada lhe chame a atenção?

Ao se relacionar profissionalmente com alguém, o ser humano procura novamente um complemento, visando para si pessoas influentes na obtenção de ganhos financeiros, conhecimentos, reconhecimentos e/ou todos esses conceitos juntos. Por que não? Aí está o interesse! Para que alguém irá se envolver profissionalmente com pessoas que não irão lhe agregar nada, seja obtenção de lucro, crescimento profissional, captação de conhecimento?

Ao se relacionar emocionalmente com alguém, amigos e etc., por óbvio, o ser humano buscará pessoas com as quais possui afinidade, lhe agregue momentos, prazeres, sentimentos de gratidão, conforto, tranquilidade... novamente, aí está o interesse! E pergunto, mais uma vez, qual a função de manter a seu lado pessoas que não lhe agregam em nada, não significam absolutamente nada para você? Chamaria de amigo um ser que não faz a menor diferença em sua vida?

Recapitulando… os relacionamentos, sejam quais forem, são baseados no interesse de diversos tipos.

Podemos descrever alguns bem rapidamente:

Sexual – Interesse baseado no sexo puro e simples. A pessoa, objeto de seu desejo, tem uma afinidade sexual com você que outras não têm, por isso seu interesse nela.

Financeiro – O ser objeto de seu desejo pode lhe proporcionar conforto financeiro, estabilidade, luxo, ostentação, não importa, o que lhe interessa é das duas uma: adquirir para si o que a outra pessoa possui (dinheiro) ou sem grandes esforços usufruir do proporcionado por esta pessoa.

Físico – O ser objeto do seu desejo possui atributos físicos que entre os demais se sobressaem, é diferenciado, faz com que você tenha vontade de expor e se expor ao lado dele, um prêmio, um pequeno troféu, quem não quer um Adônis do lado não é mesmo?!

Emocional – O ser objeto do seu desejo lhe encanta com demonstrações de afeto, carinho, coisa que não se encontra por aí tão facilmente, te faz sentir emocionalmente interessado, seguro, compartilha com você pensamentos e visões de vida, te faz dependente do sentimento que desperta, no bom sentido da palavra.

Existem inúmeros outros interesses não descritos aqui, mas acredito que os já citados são os mais comuns e servirão para o propósito desta digressão.

Retornando à máxima inicial: Relacionamentos baseados em interesse não têm futuro, não vão para frente, não vingam!

Depois de todo o imbróglio aqui discorrido será que essa máxima tem mesmo sentido? Caso o relacionamento não seja baseado no interesse, será baseado em que? No “amor”?

Lembrando, o foco aqui não é o relacionamento amoroso simplesmente.

Os relacionamentos não só começam por interesse, conforme dito acima, mas perduram por interesse.

O que alimenta o amor, senão o interesse em mantê-lo?

O que faz os relacionamentos durarem e perdurarem, senão o interesse em continuar nele?

Acabou o interesse, acabou o “amor” (fraternal, amoroso, profissional)! Ninguém ama o desinteressante, o não atrativo.

Antes de ser crucificada mais uma vez, deixe-me explicar!

Depois de despertado o interesse em alguém, surge a convivência, manutenção deste interesse, o nutrir do desejo pela companhia, conversa, lucros obtidos, conforto vivenciado, pelo sexo transcendental e, assim, o interesse vai aumentando, por vezes até modificando, alterando o curso da coisa - o interesse financeiro, físico, sexual pode ser agregado pelo interesse emocional ou vice-versa, a ordem não importa.

No entanto, o ser humano como ser sociável está envolto aos inúmeros estímulos externos, assim, o que lhe interessa hoje, pode não interessar amanhã; o que não lhe interessa hoje pode vir a ser seu maior objeto de desejo.

Ao perder o interesse pelo ser ao qual se dignou a se envolver, o ser humano tende a ignorá-lo, desprezá-lo, esquecer de tudo o que vivido até ali e, simplesmente, parte para outra.

Quando o interesse sexual acaba, procura-se outro objeto de desejo para aplacar a lascívia inerente à libido humana.

Quando o interesse financeiro não supre mais a necessidade de ostentação, não é mais suficiente para aplacar o desejo sociável de parecer ser mais ou ter mais que os outros, troca-se essa pessoa por outra com mais posses, poderes e possibilidades de proporcionar o desejável.

Quando o interesse físico é derrocado pelo tempo ou por alguém ainda mais interessante, não se pensa duas vezes, (ah, meu caro Adônis, o problema é que você não é único na terra), muda-se o interesse pelo mais belo Dorian Gray a solta por aí, até porque a busca é sempre pelo belo, o novo.

Quando o interesse emocional acaba, a pessoa a quem se dispensou os mais belos sorrisos, conversas infindáveis e juras de amor eterno (fraternal ou amoroso), não é mais quem se mostrava ser, ou pior, quem você acreditava que fosse ou simplesmente esfriou o sentimento, por comodismo, pela rotina que hoje em dia é um mal que corrói muitos sentimentos, pela distância, que pode ser medida em quilômetros, metros ou centímetros. Pode-se estar perto fisicamente, mas distante do coração.

Procura desprender dessa amarra sentimental e busca-se novos objetos de desejos, novas pessoas a quem possa depender emocionalmente, somos seres dependentes.

Como dito lá no início, o ser humano busca sempre estar envolvido. Não se pode culpar lo por relacionar se por interesse. Sem interesses não sairíamos do lugar, não levantaríamos da cama todos os dias, a vida humana é envolta a pequenos e grandes interesses e os relacionamentos não estão livres disso.

Acredito que os únicos relacionamentos não baseados no interesse são os entre pais, filhos e irmãos, até porque, por mais que a outra pessoa não lhe desperte interesse, ela sempre será sangue do seu sangue e isso não se pode mudar, é algo mais forte, incontrolável. Estes relacionamentos estão em outro patamar de evolução e devem ser tratados de forma diferenciada.

Retornando…

Contrariando completamente a máxima inicial, o ser humano não só deve se envolver por interesse, como também deve manter como foco o maior deles: ser feliz!

Dito isto, por mais que os relacionamentos iniciem por interesse, se mantenham pelo mesmo motivo e acabem pela falta dele, o interesse em seu bem-estar, sua felicidade e a felicidade da(s) pessoa(as) com a(s) qual(is) irá se relacionar deverá sempre estar em primeiro lugar.

Não importa se os outros dizem que fulano está com sicrano por interesse. Sim, está sim e espero que objeto deste interesse perdure por muito tempo ou por que não pela vida eterna?! Que seja eterno enquanto dure!

Qual o seu interesse nas pessoas com quem está se relacionando? Já se questionou isso? No dia que descobrir, poderá saber como manter viva a chama que o alimenta ou correrá o risco de perceber que não está mais tão interessado assim - as vezes é melhor nem saber, “a ignorância é uma bênção”.

Mas, se arriscar descobrir, tenha em mente, que o maior interesse estará sempre voltado à sua felicidade e das pessoas que ama.