As terras do Brasil são dos índios.

Juro que não entendo uma idéia que, entendo, não é para ser entendida: As terras que estão, hoje, sob jurisdição do Estado brasileiro, pertenciam, antes de Pedro Álvares Cabral nelas pousar, há quinhentos e vinte e três anos e alguns dias, os pés, aos nativos, que os filhos, netos e bisnetos dele delas expulsaram, e, portanto, aos descendentes daqueles povos primitivos, hoje não tão primitivos como os seus ascendentes, pertencem hoje, mesmo que sejam os seus donos outros bípedes implumes que não eles, e assim sendo a eles têm elas de serem entregues. O brasileiro que está de acordo com tal idéia já procurou saber se tem instalada a sua casa dentro do território brasileiro, e, não sendo descendente de nenhum dos povos que em terras brasileiras viviam antes da chegada dos lusitanos, e sabendo que sim, que está a sua casa em área tupi, já ajeitou numa trouxa, disposto a restituir aos verdadeiros donos das terras que ocupa, os trens, e já providenciou a passagem para uma viagem, só de ida, para terras do outro lado do Atlântico?! Ah! Entendi. As terras que têm de ser restituídas aos tataranetos dos homens e mulheres que viviam, como vieram ao mundo, antes das caravelas européias se anunciarem no litoral do continente que veio a ser o Novo Mundo, são as dos outros, as dos outros.

No desejo de ficarem bem na fita, muitos brasileiros estão a dar tiros nos próprios pés. Não lhes caiu a ficha, ainda - e talvez ela jamais lhes venha a cair tão refratários são ao bom-senso.

Houve uma época, de triste memória - e qual época não é de triste memória?! -, em que lusitanos, e tupinambás, e franceses, e tupiniquins, e espanhóis, e araras, e holandeses, e kanindés, e outros povos, viviam, em terras que os portugueses resolveram que à Coroa Portuguesa pertenciam, em pé-de-guerra, a trocarem socos e pontapés, e flechadas e espingardaiadas, a matarem-se uns aos outros. Enfim... Resumo da ópera: prevaleceu a força do mais forte, e não a fraqueza do mais fraco.

A história de antanho, do tempo do onça, de quando os humanos ainda não tinham inventado a lâmpada elétrica, e nem o navio a vapor, está escrita em livros sem conta, e possui versões que atendem a todos os gostos. E hoje está representado, em mapas geográficos, dentre os países da América do Sul, um país imenso, Brasil, terra em que se plantando tudo dá, principalmente tiriricas e traíras.

Que vivam, e vivam bem, em terras suas, do Brasil, os kariris, os canela apanyekrás, os mebengôkre kayapós, os pankararés, os uru-eu-wau-waus, os xakriabás, os cinta largas, os aranãs, e os outros brasileiros descendentes de povos que as terras brasileiras ocupavam antes de a caravela de Santo Antônio, e a de São Pedro e a de Nossa Senhora Anunciada apresentarem-se-lhes na linha do horizonte. Infelizmente, usa-se tais povos para prejudicar o Brasil e os brasileiros. E dentro do continente Brasil estão os genericamente denominados índios, que, usados como arma política, em favor dos quais dizem lutar pessoas que, pouco se lixando para eles, estão a defender interesses inconfessados, também serão imensamente prejudicados.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 03/09/2023
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