MINHA PROFESSORA DE CIÊNCIAS .

 

 

   Ela se chamava Diva. Era  alta, cabelos muito pretos e lisos, óculos de grau com lentes grossas. Era bonita, tinha um timbre de voz alto mas suave, uma personalidade muito forte e chamava a atenção onde quer que estivesse.

   Foi minha professora preferida, mesmo entre os tantos outros que já tive e provavelmente os que ainda terei. Ela era forte, sabia dominar as emoções e é bem possível que com ela também tenha começado a aprender a controlar minhas próprias emoções.

   Lembro-me que certa vez, numa comemoração do Dia das Mães, soubemos que a professora Diva tinha enterrado sua mãe na véspera, justamente num domingo.

   Eu imaginava que ela ficaria arrasada, talvez só voltasse a escola depois de muito tempo e mesmo assim, usando óculos escuros para esconder as olheiras de tanto chorar. Mas estava redondamente enganado.

   No dia da festa, com as mães de todos os alunos presentes, órfã recente, ela fez questão de comparecer, fazer um belo e emocionado discurso, além de abraçar a todos e que eu tivesse visto não derramou uma lágrima, embora aparentasse uma enorme tristeza.

  Diva era uma mulher admirável, inteiramente dedicada ao ensino e nos tratava, os alunos, como se fossemos seus filhos, embora aparentemente não fosse casada, pois não usava aliança.

   Dela, aprendi uma das maiores lições da minha vida. Um dia, na hora do recreio estávamos brincando no pátio correndo de um lado para o outro até que uma das meninas tropeçou no meu pé e caiu.

   Todos os colegas começaram a rir, inclusive eu. Diva aproximou-se, olhou-me nos olhos e disse-me com firmeza : “Se fosse com você, estaria rindo ? Vá lá, ajude a menina a se levantar. Ela é sua colega e poderia ter sido você a levar o tombo.”. Nunca mais me esqueci disso.

  Certa vez, numa das inúmeras festividades que eram promovidas o ano todo, não sei porque fui escolhido para ler uma poesia no pátio da escola. Estranho pois eu era o menino mais feio da turma, o que falava mais baixo , além de ser o mais tímido. Tentei argumentar que não conseguiria ler o texto. Ela não se perturbou e simplesmente retrucou, com aquela voz serena e firme que me encantava, que eu era capaz de fazer o que quisesse, inclusive ler uma poesia na frente das outras pessoas. Confiei no que ela disse e li o texto. Foi um sucesso.

    Minha admiração pela professora Diva aumentou mais ainda. Às vezes penso que provavelmente sem perceber, eu a considerava como minha primeira namorada pelo simples fato de que ela era diferente das outras professoras, inclusive da diretora.

   Era uma espécie de admiração, misturada com veneração e uma idolatria que com minha pouca idade não conseguia entender muito bem.

  Se não me engano ficamos juntos durante três anos, eu como seu mais tímido e secreto admirador e ela, cada vez mais curiosa com a maneira como eu a olhava, olhos fixos, com certeza sempre brilhando.

   Na minha inocência de garoto aprendiz julgava que era correspondido quando na verdade, hoje eu entendo que o que acontecia naqueles tempos era uma enorme paciência que a professora tinha comigo.

   O último ano que estivemos juntos me trouxe uma alegria e uma decepção. A alegria foi quando fomos comunicados que Diva tinha sido promovida a diretora da escola. Era a primeira vez que acontecia esse fato com uma negra.

   Houve uma solenidade, a antiga diretora se despediu pois ia se aposentar e eu estava tão feliz que fiz questão de ler uma nova poesia. Era minha maneira de dizer a Diva o quanto eu estava orgulhoso e a admirava.

   A decepção aconteceu no mesmo dia, ao final da aula. Como sempre acontecia , tão logo ouvia o toque da sirene corria para o portão para ver minha professora preferida sair.

   Gostava de vê-la passar e receber um sorriso de “até amanhã”. De fato ela veio em minha direção, me deu o esperado sorriso e caminhou ao encontro de um homem que eu nunca tinha visto e que a esperava com a porta do carro aberta. Quando ela chegou mais perto ele pegou nas suas mãos, deu-lhe um ligeiro beijo nos lábios , em seguida um forte abraço e ela entrou no carro. Lembro-me que naquele dia fui chorando para casa.

 

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(Minhas sinceras homenagens a professora Diva, a todos os meus outros professores bem como aos que se dedicam ao ensino, de uma maneira geral.)




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 22/12/2007
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T787857
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