Maria e a pocilga

Vamos Maria, descer ao fundo do poço, ver a chafurda que cega o que te faz sentir o coração

Lá debaixo, o céu é mais distante, menor e inútil aos teus sonhos e tamanho.

Se te jogar, vai perambular num inferno úmido e frio, como assim já era.

Bora Maria, a falta de vida não te convence? Não te apetece o fim de tudo? Não te bastaria os sete palmos?

Quem vê, pensa - Que pra chegar no inferno a morte é passagem...

Maria de Deus,

De ninguém é que não é.

Foste sua uma vez

Venha cá, vamos sentar na cacimba e sentir o cheiro que as lágrimas terão no lodo, no fundo do poço tem um espelho - As turvas curvas,

Das tuas rugas viscerais.

Quanto ódio inexpugnado

Quanto pus nessas feridas...

Ai de ti Maria,

Ouvir-me te fará dormir bem,

Nessa pocilga de tuas injúrias estou a esperar

Posso ser a razão de tudo se assim quiser.

Mas desejo-te que não me queira bem. Te convido a ficar por um tempo precioso porém feio. Verás o passado mastigar teu presente assim como verás o presente devorar o futuro.

Ouça-me, Maria

O que sente é genuíno aqui ou acolá. Não se engane com os fundilhos das verdades. Não se negue, me renegue

Maria querida,

Não precisa ser hoje, podereis te esperar, a fim de contas, sou o fundo do poço, não sou jorrante, estou de pingo em pingo enchendo o raso.

Não sorria pra mim, pois sorrirei de volta. Se me queres tão bem, não serás por mal que te acolherei.

Se não vai se jogar, vai se embora.