ESTRANGEIRO EM MINHA PRÓPRIA PÁTRIA

JOEL MARINHO

Há algum tempo venho fazendo uma autoanálise com relação aos meus sentimentos ao que diz respeito a lugar de pertencimento. Depois de várias mudanças o meu lugar de nascimento foi se tornando distante e mesmo que eu sinta saudades quando retorno para passear é como se eu me sentisse um estrangeiro em minha própria pátria.

Mesmo que haja belas recordações, rememorações que por vezes levam às lágrimas não há mais sentimento de pertencimento, é como estar em uma outra galáxia. Estou no lugar errado ou o lugar onde eu nasci não existe mais? Que sensação estranha!  

Apesar de me sentir feliz por estar no “meu” lugar já não sinto mais entusiasmo para ficar por muito tempo nele, já quero voltar para onde eu estou morando atualmente, aquele lugar onde um dia a mim foi estrangeiro. Era tudo tão sinistro e sombrio nos primeiros tempos e hoje o meu cantinho de aconchego, onde paro para descansar e chorar as mágoas da vida.

Mas o porquê de não me sentir mais pertencente ao lugar onde nasci?

Em primeiro lugar, já não há mais o mesmo cenário, o que era mata virou campo aberto, os pássaros que ali gorjeavam simplesmente desapareceram, as pessoas as quais fizeram parte daquela infância a maioria já partiram dessa vida ou já estão muito idosos, não tem mais a mesma alegria, até a beleza do sol e da lua ao nascer e se pôr não tem mais a mesma cor, os sonhos de criança de voar pelo horizonte infinito se foi com o peso da idade também, nada mais é como antes.

Às vezes na ilusão dos meus torpes pensamentos fico imaginando como seria se eu tivesse tido a oportunidade de ter ficado ali e preservado exatamente como era ou se pudesse comprar tudo aquilo e ter de volta hoje. Apenas divagações obtusas de um cérebro já cansado pelo peso do tempo e da vida, pois com certeza tudo estaria mudado, afinal eu também mudei.

O que faz de mim, pensamentos? Mas ao mesmo tempo é tão bom esse privilégio de lembrar, talvez por isso a vida seja essa junção de sentimentos bons e ruins entrecortada ligeiramente por lampejos de lembranças e lágrimas de saudades mesmo quando me sinto estrangeiros em minha própria pátria.