O tempo de ter tempo

Certa vez, fui visitar minha mãe, ela já é idosa, e tendo em vista que também já sou, imaginem uns vinte anos a mais que eu.

Sempre adoentada, prótese de femo, bengala ou andador para poder caminhar, e dificuldades em aceitar tal condição.

Acho justo, pois fácil não é perder independência, e dependente dos outros se tornar.

No retorno, de repente percebi que fiz o que não deveria ter feito, ou seja, deixei de fazer.

Eu quase não falei com ela.

Eu quase nada fiquei com ela.

Eu não a ouvi, não lhe permitia falar o que sentia, e ela queria falar.

Mas uma irmã que lá estava, junto de mim tagarelava, e eu a ouvia, e atenção lhe dava.

E com minha mãe, muito pouco fiquei. e desse pouco, nada do tempo que eu tinha lhe dediquei.

Eu não a abracei, não beijei, só disse que a amava, mas o amor que sentia não demonstrei

Ela estava lá, frágil, sensível, e insegura dentro de sua segurança.

E foi por amor que eu fui visitá-la, mas com ela de forma nem tão amável falei.

Eu estava triste também, por mim, que tenho lá minhas mazelas íntimas, por ela, por não estar feliz, e mais triste ainda fiquei, pelo pouco tempo que lhe dediquei, porque embora ali estivesse, quase nada do meu tempo a ela dediquei.

Mas acho que minha tristeza poderia ter sido anulada, se tivesse causado um sorriso no rosto dela, e eu o não vi, se riu não percebi, mas em minha lembrança, ela em momento algum sorriu.

Eu estava com pressa, do que e porque não sei, ou melhor, sei, mas minha pressa deveria ser em dar a ela o meu melhor tempo. E tive que partir.

E ela ficou lá, parada na porta, não pode me acompanhar, eu não deixei, estava chovendo, e mais uma vez em nome do amor a ela, e para protegê-la eu me fui, deixei-a para trás, e no meu último olhar, encontrei o olhar triste dela, e foi ele que trouxe comigo, junto a decepção comigo mesma, pois pode ser a última oportunidade de ter seu sorriso que perdi, ou a última frase, o último olhar, e eu está lá e não soube aproveitar.

Poderia eu ligar e lhe pedir perdão, mas não resolveria, o que iria resolver é o erro reparar, mas só se o tempo deixar.

Porque ela vai embora, e não é para sua casa, só sei que ela irá, hoje amanhã, ou quando não sei, só sei que peço a Deus, que quando este dia chegar, eu já tenha tido tempo de meu erro reparar, e consiga chorar para que através das lágrimas minha alma eu consiga lavar.

Ela estava lá , mas eu não soube sua presença aproveitar.

Por minha culpa, minha culpa,

Minha máxima culpa.

Então, se ainda tens mãe, corre para a ela abraçar.

Poetisa do tempo poetizando
Enviado por Poetisa do tempo poetizando em 16/09/2023
Código do texto: T7887347
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