POR QUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS?

Qdo. se é forçada(o) a uma condição de opressão, se é vítima do(a) opressor(a). Qdo. nos colocamos espontaneamente nessa condição, nos tornamos cúmplices.

Claudio Chaves

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PRECONCEITOS e recalques à parte, eu sei, obviamente, que das(os) poucas(os) dentre minhas/meus colegas de profissão que lerão essa crônica, menos ainda concordarão haver razoabilidade nas argumentações do autor. Meu objetivo, no entanto, não é [nunca foi e espero nunca ser], eventualmente, agredir qualquer pessoa ou, tão somente, arrancar aplausos. Como sempre, a finalidade precípua é nos instigar à reflexão – e, com um pouco de sorte e, talvez, a ajuda dos astros, quem sabe, até a alguma ação. Afinal, a proposta aqui é a força da ideia se sobrepor à ideia da força; e sonhar não é crime!

A PERGUNTA-título pode parecer retórica e até pueril [e penso que é mesmo]. Isso não diminui, no entanto, seu poder de provocar desconforto e inquietações. Será que, principalmente as(os) professoras(es), temos sempre consciência (especialmente crítica) sobre o que, rotineiramente, fazemos – como, por exemplo, dispender tanto tempo e energia (e, não raras vezes, dinheiro) preparando alunas e alunos – e, por extensão, a comunidade geral – para desfilarem no Sete de Setembro? Será que já nos demos o trabalho de nos perguntar, por exemplo, qual a origem e a finalidade real de tudo isso? Que impactos tem, a curto, médio e longo prazos, no desenvolvimento dessas/desses cidadãs/ãos em formação? Há coerência entre o que lhas/lhes ensinamos em sala de aula e o que as(os) induzimos a fazer na avenida? Há, de fato, necessidade desse tipo de atividade (pedagógica) para a formação integral dessas/desses sujeitos/as? E precisa ser nessa data? Existe alguma imposição legal para isso? Quem tira proveito disso? Por que tem que ser assim? E por que poderia/deveria ser diferente? Por que não deveria ser assim? Qual o problema de continuar sendo assim?

EU NÃO estou endeusando nem demonizando a tradição. Minha peleja aqui é tentar encontrar a razoabilidade da coisa, especialmente por se tratar de um País com uma tradição autoritária e antirreflexão tão social e culturalmente arraigada, no qual para o empreendimento de tal, os referidos símbolos e simbologias sempre foram, ilegal, imoral e descaradamente cooptados, como assistimos, da forma mais acintosa e despudorada, recentemente!

QUANDO se leva crianças (muitas ainda no colo), adolescentes e jovens para as ruas para celebrarem o que sabidamente não passa de um mito fundador de uma nação independente e soberana que nunca existiu, não está a escola fazendo exatamente o contrário do que se espera – pelo menos quem está do lado oprimido – dela? Quem instituiu essa tradição? Em que contexto? Com quais finalidades? O que se está celebrando? Que memórias, que figuras, que bandeiras, que “conquistas” [e de quem] estão sendo homenageadas? Que ideia, que retrato, que perfil de nação se está querendo perpetrar na cabeça dessa rapaziada? Quantos debates, quantas discussões, quantas ações, quantas desconstruções de narrativas fantasiosas sobre tais mitos foram promovidas em nossas escolas – todas apinhadas de subalternizadas(os) – ao longo dessa semana?

RECENTEMENTE, na, até aqui, maior campanha [ainda em curso] de difamação e linchamento moral de professores promovida por um governo oficial e seus apoiadores, recomendou-se, entre outras ações, a queima de livros impressos de nosso maior pensador [Paulo Freire] sobre Educação; e por uma “razão” “simples”: ele nos ensinou, entre outras coisas, que tais tradições (suas origens, finalidades, custos, patrocinadoras/es, beneficiárias/os, consequências...) devem, principalmente no ambiente escolar, ser problematizadas; ou seja, pesquisadas, discutidas, debatidas, avaliadas.

EU TENHO uma [“malévola”] suspeita de que as ideias deste sujeito, no fundo, não incomodam apenas um dos lados! Tomara que eu nunca tenha levantado uma hipótese tão infundada e tão falsa!