O nosso Harlem perdido?

O nosso Harlem perdido?

Assistindo a um vídeo sobre a presença judaica na Praça Onze me veio um insight, uma associação com o bairro do Harlem de Nova Iorque. Da mesma forma que o bairro nova-iorquino, a Praça Onze era marcada pela presença negra em busca de oportunidades. Ali nasceu o samba, mas ali também chegaram e se instalaram outras comunidades de imigrantes: judeus, portugueses, italianos e espanhóis. Concentrou o maior número de judeus da cidade. Imagino a riqueza cultural ali acumulada com tantas pessoas de origens diferentes, o Harlem teve praticamente o mesmo processo de ocupação.

Porém o Harlem de NY está lá, o nosso se foi pelo processo de modernização da cidade, rasgado pela construção de uma grande via com 525 prédios demolidos e milhares de famílias desalojadas. A Igreja de São Pedro dos Cléricos e de São Joaquim postas abaixo. Restou o choro de um samba composto por Herivelto Martins:

Vão acabar com a Praça Onze

Não vai haver mais Escola de Samba, não vai

Chora o tamborim

Chora o morro inteiro

Poderíamos ter o nosso Harlem? Como falei esta associação entre estes dois lugares é livre, descompromissada, pois é apenas um exercício do tipo “E se... a Praça Onze não tivesse desaparecido?”. É não dá para saber, mas a diversidade de povos que ali habitaram deixou pistas de que algo de muito valioso se perdeu. Um trecho da música “O Samba não morre” traduz a perda: “Eu vi morrer a Praça Onze.”

J Portela
Enviado por J Portela em 21/09/2023
Código do texto: T7891202
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