Porco Espinho

Porco Espinho, ouriço cacheiro, este foi um dos poucos medos que tive durante minha infância. Fui uma criança solitária, nunca tive amigos, colegas de infância ao meu lado, era eu, meus pais e avos uma tia e os empegados da Fazenda com os quais convivia no dia a dia.

Sempre fui muito independente. Acordava cedo, ia para o curral logo nas primeiras horas acompanhando a ordenha e tomava leite quentinho na caneca de alumínio e as vezes vovô colocava um pouco de conhaque e dizia: toma menino isso é bom! Eu tomava porque vovô mandava tomar não que eu gostasse. O bom mesmo era tomar aquele leite quentinho espumante...

Com o estômago cheio acompanhava a movimentação dos empregados (camaradas) que saiam para a roça a cumprir suas obrigações ou atender algum pedido do vovô.

De pé no chão, geralmente apenas com um calção (short) percorria o vasto pomar observando algumas frutas maduras e viçosas. Sempre com um canivete no bolso para descascar e saborear alguma fruta.

Seguindo sempre as observações e vovó logo embreava pelas matas e colinas em busca de aventuras, mas sempre atento as cobras e porco espinho, porque era a principal recomendação que eu recebia sempre.

- Menino tome cuidado com as cobras venenosas! A coral toda colorida, a cascavel que possui um chocalho, a Jararaca ...e assim ia recebendo orientações das espécies perigosas das quais deveria manter distância. Ah tome cuidado também com o porco espinho! Era uma advertência diária!

Eu estava acostumado a ver o sofrimento dos cachorros quando atacadas pelo ouriço. O animal vinha grunhindo e focinho sangrando de tantos espinhos lá cravados!

O Zé Soares acostumado com essa situação corria sempre em socorro ao pobre cão que ao querer abocanhar o animalzinho, aparentemente inofensivo, tinha o focinho cravado de espinhos.

O camarada já sabendo de como cuidar sem causar maior sofrimento ao pobre animal, colocava-o entre as pernas e de posse de uma tesoura ia cortando espinho a espinho esperando aliviar um pouco aquela agonia!

Com alguma sorte o animal sobrevivia, outras vezes tinha que ser sacrificado.

Sempre de pequeno fui impetuoso, menos quando se ratava de porco espinho tamanho era o medo de topar com ele e ser cravejado de espinhos, pois eu imaginava que os espinhos eram jogados, o que nunca me ensinaram é que os cães só eram molestados porque eles fuçavam o bicho e como os espinhos possuem uma *garra eles fincam e quando tenta puxá-los provoca mais ferimentos ainda; por isso cortá-los é a melhor opção. Não faltavam remédios caseiros inclusive benzeduras.

Das serpentes o medo foi devido as coisas que ouvia dos mais velhos.

Urutu a terrível serpente que se não matava deixava marcas irreversíveis, como perda da carne pele apodreciam ficando apenas o osso! Isso eu cheguei a ver alguns animais mutilados assim e diziam: + Foi mordido (a) por urutu!

Cascavel temida pela picada mortal além da crença de que era vingativa e que procurava a pessoa onde ela estivesse.

Certa vez ao caminhar por um capinzal, sem querer, pisei num ninho de cobra, sorte que só estavam os filhotinhos, não fui picado, mas até hoje sinto aquele arrepio de pensar na mãe (cobra) quando voltou e percebeu o ocorrido. Estava eu indo a um pé de manga na colina, nunca mais apareci por aquelas bandas. Sei por outros trilhos na intenção de despistar o máximo e fui para casa passando muito tempo de sobreaviso até o dia que mudamos daquele sítio.

Sempre fui uma criança além de impetuosa, destemida ouvia muitas estórias, causos e presenciei e vivi algumas situações até fora do comum! Mas nunca fui temeroso quanto aos casos narrados anteriormente. Gostava e sou lembrado até hoje por gostar de assustar e assombrar os primos, os amigos quando iam passear na roça! Mas nada mais me assustava !