Dois velhos conhecidos encontram-se e atualizam informações sobre a vida.

 

- Veja essa palavra aqui: Schadenfreude. O que você tem a dizer sobre ela?

- Eu sei que é uma palavra alemã que surgiu no meio do século XVII. É antiga.

- Eu já pensei que fosse bem recente. Olhe só. Como interpretá-la?

- Schaden significa dano, prejuízo. E Freude, alegria, prazer. A junção revela.

- Pois é. Uma palavra negativa como dano e outra positiva, como alegria.

- Você está pensando que um atributo anula ou atenua o outro? É isso?

- Sim, algo na linha do “há males que vêm para o bem”, sabe?

- Sei sim, mas aqui o caso é do mal, da dor, que provoca alegria e prazer.

- Eu cheguei a pensar no nosso “bem-feito!” de antigamente, lembra-se?

- Bingo! Matou a charada. Algo como “recebeu o troco e fico feliz”.

- Então, a gente só sente essa tal Schadenfreude por alguém que detestamos.

- Isso mesmo! Alguém que nos irrita, nos incomoda, que nos causa repulsa.

- Sei, sei. Alguém que, por respirar, me dá enjoo, náusea. Sei bem sobre isso...

- Lembra-se daquela caixa da Coop, aquele pacote de azedume e antipatia?

- Sim. Soube que foi dispensada. Fiquei satisfeito. Isso é Schadenfreude?

- É. Ela sofreu um dano com a dispensa e isso alegrou o seu coração.

- Lembra-se daquele assessor de investimentos do banco BXabiú?  

- Aquele que era nosso assessor, mas assessorava os interesses do banco?

- Alguém lhe aplicou um trote e a mulher dele acha que foi vingança de mulher.

- Será que afetou a insuportável arrogância daquele nojento?

- Perdeu o carro com o trote e não houve cobertura pela seguradora.

- Ou seja, perdeu mais ou menos o que nós perdemos. Bem-feito!

- O moço era recém-casado e o casamento naufragou. Lição boa da vida.

- Outro exemplo de Schadenfreude. E aquele padre que até virou cônego?

- Sim, o José B. Pregava em favor da família cristã e mostrava-se homofóbico.

- Caiu no golpe “Boa noite, Cinderela”. Onde? Em uma sauna gay. Bem-feito?

- Na política ocorre muita Schadenfreude com os que estavam no alto e caem.

- No mundo artístico também, com as celebridades e subcelebridades.

- Enquanto uns colegas ficam penalizados, outros sentem a tal Schadenfreude.

- Lembro-me, agora, de um vendedor de colchões que festejava uma enchente.

- Claro, o prejuízo, a desgraça do outro era a sua alegria nas vendas.

- O florista do cemitério vibra com a chegada de mais um caixão.

- Nesses casos há uma diferença: as pessoas envolvidas não se conhecem.

- E na Schadenfreude, conhecem-se e uma fica feliz pelo prejuízo da outra.

- Acho que são sentimentos tipicamente humanos, essas pequenas vinganças.

- Também penso assim. É o tal “comprazer-se com a desgraça alheia”.

- Mas é uma desgraça considerada merecida, justa, como se fosse uma paga.

- Sim, um acerto de contas na contabilidade celestial.

René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 27/09/2023
Código do texto: T7895143
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