Ela é uma moça sabida

 

“Ela é uma moça sabida”, diz em vídeo de WhatsApp o senhor Antônio Pinto Pereira, morador de Marabá, referindo-se à filha Graziellen de Medeiros Pereira, candidata ao cargo de conselheira tutelar de Marabá, nas eleições de 1.º de outubro de 2023. Além dele, o pai, participa do vídeo a senhora Odete Rodrigues de Medeiros, a mãe da candidata. Só os dois.

 

Alguém, com sabedoria, os gravou: o vídeo, a meu ver, ficou excelente. Eles são muito simples. E exatamente por isso o casal me conquistou: logo, nas primeiras palavras, caiu na minha simpatia. Emocionei-me com o gesto e a linguagem de ambos, pai e mãe da moça. Sua simplicidade me levou à infância, adolescência e juventude, vividas na roça, em vários lugares da zona rural de São Domingos do Araguaia e de São Geraldo do Araguaia, grande parte em meio à minha parentela nordestina.

 

Sou, gosto de registrar, filho de nordestinos que deixaram os respectivos Estados ainda bem jovenzinhos e vieram para o Estado do Pará. Meu pai era piauiense de Canto do Buriti; minha mãe, maranhense de Pedreiras. Ambos são falecidos. O papai faleceu em 20 de janeiro de 2007; a mamãe, em 28 de novembro de 2013. Eram pobres, analfabetos, simples, honestos e trabalhadores. Foi seu jeito simples de ser que formou indelevelmente o meu caráter e o de meus irmãos.

 

Foi por isso que muitas das palavras do casal me lembraram de meus pais, de meus parentes maternos e de muitos amigos deles, a maioria analfabetos, os quais tinham profunda admiração e respeito pelas pessoas alfabetizadas, por quem sabia ler. Calou fundou no meu peito e deu-me um nó na garganta uma frase dita pelo pai: “Ela é uma moça sabida.” Puxa vida, como fiquei emocionado ao vê-lo dizer isso, pois lembrou minha mãe.

 

Emotivo e apegado ao passado, confesso que – sozinho, aqui no que chamo de escritório residencial – quase não consegui conter as lágrimas. Era assim que minha mãe, seus parentes e seus amigos, todos tão humildes quanto ela, se referiam, com admiração e respeito, às pessoas que estudaram. Nem era preciso ser formado, pois eles nem sequer sabiam desta história de formatura. Bastava saber ler, escrever e contar – como diziam – para ser reverenciado, admirado e respeitado. Quanta honra, honestidade e simplicidade!