Cuidar - BVIW

Recentemente desinstalei o instagram do meu celular. Fiquei triste ao me ver diante de um vídeo onde uma mulher falava que o instinto materno é construção social, como querem hoje provar que são nossos impulsos mais ancestrais, biológicos inclusive. O vídeo me levou a refletir acerca da completa falta de disponibilidade afetiva que parece permear as relações contemporâneas. O instinto materno é inerente à todas as espécies de mamíferos. E foi por causa dele que os humanos sobreviveram como espécie, chegando à esse estágio civilizatório. Afinal, alguém tem que cuidar, não é ? E tem que ser um cuidado amoroso, porque senão o bebê humano não sobrevive. Quase sempre esse primeiro vínculo afetivo é estabelecido com a mãe. Claro que, na falta dela, vale o cuidado do pai, da avó, da babá ou da vizinha, não estou me esquecendo disso.

Estamos ficando excelentes em cuidar de nós mesmos. Vamos ao terapeuta, à academia, ao nutricionista. Fazemos yoga, meditação, dietas e caminhadas diárias. Precisamos também de viagens, ao menos duas vezes por ano, que ninguém é de ferro. E ao colocar essa lente de aumento sobre o próprio umbigo, vai o cuidado com o outro se diluindo cada vez mais no mar do nosso imenso egoísmo disfarçado de auto-amor. Não queremos o peso de cuidar de ninguém, seja de pais velhos ou doentes ou de filhos e suas intermináveis demandas. O desprezo ao instinto materno é só a ponta do iceberg. Nossa arrogância quer nos fazer esquecer que pertencemos à natureza e que também nós somos o resultado do cuidado que um dia recebemos de alguém.

Ana Deister
Enviado por Ana Deister em 03/10/2023
Reeditado em 01/05/2024
Código do texto: T7900192
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