Aquele rolê em Sampa pra curtir às "pampa"

Condicionador de ar tipo janela: 14 unidades (aqueles mesmos, os mamutes da década de 80: consumo de energia proporcional ao peso do equipamento);

Condicionador de ar tipo split: 21 unidades (na verdade, 42 peças, já que cada um é composto por unidade condensadora e unidade evaporadora; e pra ajudar, cinco deles de 60.000 BTUs: leves e jeitosos pra mexer, como hipopótamos em plena revoada);

Cadeira odontológica: 01 unidade (mas não se engane, que não tem nada pra comemorar, porque o trem pesa mais que meia-dúzia dos condicionadores de ar supracitados: é daquelas laranja, o puro creme do chumbo maciço, direto de Marabá Paulista);

Mesa para exames ginecológicos: 01 unidade (só uma, graças a Deus, porque é ainda mais pesada que a cadeira odontológica supracitada: também de Marabá, Misericórdia!);

Equipo odontológico: 01 unidade (suave, parte do conjunto da cadeira odontológica, mas tem um emaranhado de fios: uma macarronada que enrosca em tudo pelo caminho);

Autoclave: 02 unidades (um vertical, que parece aqueles foguetes dos anos 60 e um horizontal, que é a cara das panelas de pressão da mesma época);

Estufa para esterilização e secagem: 01 unidade (tão antiga que a gente nem lembra mais de quando sua utilização pelas Unidades de Saúde passou a ser proibida);

Negatoscópio: 01 unidade (chique, com moldura prateada e tela vermelha);

Refrigerador: 01 unidade (data de aquisição: 02/11/1957 - e é real, porque consta nos registros dos inventários escritos à mão, depois datilografados, mais a frente impressos em formulário tipo coluna e agora, extraídos do Sistema de Administração Patrimonial em arquivos em formato PDF);

Máquina de escrever: 02 unidades (Olivetti: valeriam uma moeda se não estivessem só o pó da rabiola - certeza que foram usadas pras "bater" as fichas dos inventários; se bem que tem gente que teve uma baita dificuldade de desapegar e correu pro banheiro pra chorar escondido na hora da despedida);

Balança para pesar recém-nascido: 01 unidade (data de aquisição: 19/08/1952 - fala sério: já tava chegando na quinta encarnação das vidas úteis);

Armário de aço com duas portas: 16 unidades (aqueles que todo mundo do Postinho sabe que pertencem ao Estado: os famosos "verde-musgo", proclamados por muita gente como "Highlander"; só que não, porque o fim chega pra todo mundo);

Arquivo de aço com 04 gavetas: 06 unidades (favor considerar a mesma descrição do item acima mencionado);

Aparelho de banho de parafina para fisioterapia: 01 unidade (esse já é moderno, da década de 90! Pensa que é só peça de museu que tem aqui?)

Aparelho eletroestimulador neuromuscular: 01 unidade (veio junto com o anterior, gentilmente devolvidos pelo Município de Mirante do Paranapanema, por não mais apresentarem a mínima condição de uso);

E tem os equipamentos pra processamento de dados que, apesar do avanço de anos-luz se comparados aos demais itens, também já tariam entrando fácil na terceira vida.

Microcomputador: 11 unidades;

Monitor: 11 unidades;

No Break: 11 unidades;

Netbook: 08 unidades (destinados aos Articuladores da Atenção Básica, em 2009);

Notebook: 03 unidades (substituíram os Netbooks em 2013 e - olha que maravilha - só três "pitimbaram" depois de dez anos de trampo; os outros cinco irmãos continuam no basquete!)

É isso: eis a singela lista dos bens patrimoniais inservíveis, pertencentes ao Departamento Regional de Saúde de Presidente Prudente - DRS XI, doados ao Fundo Social de São Paulo - FUSSP, pelo Centro de Material Excedente - CMEX, mediante autorização consignada em Resolução expedida pela Casa Civil, publicada no Diário Oficial do Estado - DOE.

Aff! Ok, pausa pra respirar!

Isso, tranquilo...

Puxou...

Soltou...

Bora lá entender essa sopa de letrinhas?

Tudo isso pra dizer que tudo que é material permanente que se encontra em péssimo estado de conservação, sem possibilidade de continuidade de utilização, com custo de reparo que ultrapassa o limite legal, deve ser encaminhado pro Fundo Social pra ser vendido em leilão.

O valor arrecadado é revertido pras ações desenvolvidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social.

A Unidade instaura o processo de arrolamento de bens inservíveis, que são colocados à disposição do Centro de Material Excedente que, por sua vez, instaura o processo de doação ao Fundo Social.

Aí quando é publicada a Resolução que autoriza a doação, a Unidade é notificada pra fazer a entrega dos bens no Núcleo de Armazenamento e Depósito de Materiais e Equipamentos Inservíveis - NADMEI, que fica no Jaguaré, em São Paulo.

Pois é! É isso mesmo: todos os órgãos do Estado tem que entregar os bens arrolados no depósito da Capital. E cada um que se vire pra levar a sucataria! Inclusive quem mora aqui no sertão, a 560 Km de lonjura.

E com uma logística que desafia a lógica!

O DRS de Prudente não tem caminhão pra fazer esse tipo de transporte e há mais de um ano não conta com mais nenhum motorista pra chamar de seu no quadro funcional.

Mas, por uma graça celestial, a gente foi contemplado, pelo Núcleo de Apoio às Operações Regionais - NAOR, com um imenso obséquio: a cessão de um Oficial Operacional pra conduzir os servidores em deslocamentos dentro e fora do município!

Ô, glória: ainda bem que tem o Mauro pra levar a galera pras "missão". Mas pro caminhão não tem não...

Como é que faz, então? Pede emprestado pra quem tem, ué! O embaçado é que o único Departamento Regional de Saúde que possui veículo de carga é o de São João da Boa Vista.

Tá certo que a Marilza - a diretora do Núcleo de Administração Patrimonial de lá - é "Parceiraça" e sempre se desdobrou pra disponibilizar o caminhão pra Prudente e tals...

E sempre deu muito bom!

O que pega é que São João da Boa Vista também é longe pra caramba e também tá sem motorista já faz um tempo.

Aí tem que pedir liberação de motorista da Coordenadoria de Regiões de Saúde pra fazer um "corre" mais que insano: o maluco vai de São Paulo pra São João pra pegar o caminhão, atravessa o Estado pra Prudente pra carregar no DRS, toca pra Capital pra entregar os bens, sobe de novo pra São João pra devolver o caminhão e volta pra São Paulo depois de três dias de peregrinação desvairada...

Foi então que o Mauro, que trabalhava na extinta SUCEN, deu a dica que a unidade de Araçatuba tinha um caminhão "monstro", com uma carroceria de uns dez metros de comprimento e que de repente, assim, só pra "sentir a febre", não custava nada fazer uma sondagem pra tentar descolar aquela colaboração virtuosa...

E não é que os "primos" da Coordenadoria de Controle de Doenças exercitaram a solidariedade com força? Sem palavras pra expressar a gratidão do gesto!

E mandaram um pessoal muito, mas muito prestativo! Uns meninos que arregaçam as mangas, botam a mão na massa e fazem acontecer: chegaram, carregaram o caminhão, partiram pra Sampa! Sem preguiça, sem mi-mi-mi! Só alegria!

- Valeu! Aquele abraço! Amanhã tâmo lá as nove pra descarregar!

- Fechado! Amanhã às nove!

Pois é! Toda entrega tem que ser realizada com a presença de um servidor da unidade que promove o arrolamento dos bens, ainda mais quando tem equipamentos e aparelhos médicos, hospitalares e odontológicos.

É imprescindível ter alguém lá pra identificar, pro pessoal que faz a conferência, os itens correspondentes aos que constam do Mapa de Arrolamento.

E quem é que vai acompanhar as entregas do DRS de Prudente? O Ricardo! É serviço dele! Bate-e-volta pra São Paulo pra fazer um "cara-crachá" da quinquilharia.

- Quinquilharia é o caramba! São os guerreiros que cumpriram a missão com louvor e merecem descansar em paz!

Só que pra essa viagem as configurações já começaram alteradas: o Mauro já tava escalado pra outra fita, também pra São Paulo, pra levar o bonde da diretoria pra uma reunião na CRS.

Aí foi preciso pedir mais uma gentileza pro NAOR: ceder outro motorista pra levar o Ricardo porque não tinha vaga pra ele na viatura.

- Vai ser o Osvaldo? Opa, show! O rapaz é firmeza!

Só tinha mais uma perninha de grilo: o Ricardo costuma sair praticamente junto com o caminhão, antes do almoço, mas dessa vez não rolou porque tinha uma reunião com a Procuradoria-Geral do Estado marcada pras duas da tarde.

- Caramba, vâmo chegar lá num horário mais avançado! O lado bom é que vâmo evitar o pico do congestionamento na Marginal...

Mal sabiam que iam chegar bem, mas bem mais tarde do que imaginavam!

Até que começou positvo: a reunião foi rápida e às três o Ricardo já tava na estrada.

Tudo muito belo, tudo muito lindo! Até pipocarem as "presepadas".

Pedágio de Porto Feliz, 21:00.

A embreagem da Sandero afundou e não voltou.

- O cabo já era! Ficâmo na mão!

Menos mal que foi no pedágio: local iluminado, socorro imediato, puro creme do prejuízo minimizado.

O guincho da concessionária da rodovia levou o carro até o posto mais próximo - e o Osvaldo e o Ricardo junto, de rolê na cabine dupla...

De lá, o Ricardo ligou pra Elisiane - a diretora do Centro de Gerenciamento Administrativo - pra acionar o seguro e mandar um guincho pra levar a Sandero de volta pra Prudente.

De novo sem palavras pra expressar uma gratidão: a moça saiu do aconchego do lar pra ir no DRS, abrir o processo e contatar a Seguradora e, logo cedo, foi correr atrás de providenciar passagem de ônibus pro Ricardo voltar...

O Ricardo então teve a ideia de pedir pro Mauro, que já tava em São Paulo, pra fazer a caridade de ir buscá-lo no posto pra não ter que voltar também e poder fazer a entrega dos materiais no dia seguinte.

E mais uma vez sem palavras pra expressar uma gratidão: o cara já tava no hotel, de boa, no descanso merecido e montou no carro, sem titubear, pra rodar mais 200 km pra pegar o Ricardo e trazer pra São Paulo! Vale ou não vale uma diária em dobro?

Acabou que o Ricardo chegou no hotel "dispois das doze badalada noturnica", como diria um grande amigo dele, o Zé Cutivo do SUS...

E teve que pular mais cedo pra pegar o busão - o 748R10 - pro Jaguaré. Se não tem outro jeito, bora encarar!

Chegou lá antes do caminhão!

- Tá melhorando! Pelo menos ganhei uma!

Só que deu nove horas e o caminhão não chegou. Mais meia hora e o Ricardo já começou a "pegar ar." Outra meia hora e bateu o desespero.

- Só faltava o caminhão ter quebrado também...

Mais quinze minutos e chegaram!

- Foi mal, Ricardo! O caminhão tá dando problema pra dar partida. Quer ver só?

Girou a chave. Nada!

- Aí a gente precisa dar uns "presta-atenção" no pino da bateria com o alicate pra ele voltar pro lugar. Quer ver só?

- Tec! Tec! Tec! Tec! Tec!

Girou a chave.

- Brum! Brum! Brum! Brum! Brum!

- Foi assim o trecho todo!

Mas o que importa é que todo mundo chegou! Morrendo, mas inteiro!

Fizeram a entrega!

E outra vez sem palavras pra expressar uma gratidão! Na verdade, duas!

Uma pro Válter, o responsável pela conferência dos bens. Viu que todo mundo já tava muito, mas muito além do fim das forças e deu aquela força pra ajudar a descarregar as "plumas".

Podia muito bem ter ficado só assistindo os meninos se acabando, mas exercitou a empatia, a compaixão e a solidariedade.

E outra pra Andréia, a responsável por conferir e assinar os recibos. Atrasou o horário de almoço pra esperar acabar a entrega e liberar a gente pra voltar pra casa.

Podia muito bem ter deixado todo mundo no toco, mas exercitou a empatia, a paciência e a solidariedade...

E assim foi a jornada: um dragão atrás do outro, todos abatidos com a ajuda dos anjos que Deus manda pra estender a mão, iluminar, orientar e proteger a gente...

Agora era só pegar o 748R10 pra Barra Funda e "go home".

A Elisiane comprou a passagem pras cinco da tarde, mas ainda era meio-dia.

- Bora tentar chegar a tempo pra ver se tem assento disponível no ônibus das duas.

E não é que ainda tinha mais emoção pela frente?

Acidente na Rua Clélia! Com o ônibus do Ricardo! O cara da moto, passando chutado entre o busão e o carro do lado, perdeu o controle, tentou corrigir pra não bater na lateral de um, perdeu o equilíbrio de vez e prensou a perna na lateral do outro.

Fratura exposta! E o pior é que caiu e acabou debaixo do ônibus! Por milagre o motorista viu no retrovisor e freou antes de passar por cima do rapaz com a roda de trás!

Tudo parado por mais de meia hora pra esperar chegar o resgate, atendimento de primeiros socorros, imobilização, remoção do menino, chegada dos policiais, preenchimento de papelada, tudo e mais tudo que tem que ser feito quando acontece acidente com vítima.

- Caramba, que dia!

Acabou que o Ricardo chegou na Barra Funda aos quarenta e cinco do segundo tempo e - rufem os tambores - ainda tinha uma vaga no ônibus das duas.

- Prontinho! Passagem em nome de Ricardo Sestim, antecipada para as catorze horas, Poltrona 28. Tenha uma boa viagem!

Retorno tranquilo, sem ocorrências, na paz! Até que enfim uma sem alteração...

Ainda deu pra ter uma noite inteirinha de sono pra se refazer da montanha-russa das últimas 36 horas e começar tudo de novo no dia seguinte!

Na verdade, pra acabar tudo no dia seguinte, mas "pacabá" mesmo: logo cedo veio a notícia de que não tinha previsão pra receber a diária da viagem porque tá faltando RH no Núcleo de Finanças pra processar os pagamentos.

- Mas pra que tanta pressa? Pra quem foi só passear em São Paulo e ainda vai embolsar uma grana às custas do contribuinte, receber antes de trinta dias já é querer exigir demais, não é não?