Horror romântico inesquecível

A maioria dos acontecimentos do dia a dia são deletados automaticamente da memória e outros tantos passam despercebidos, mas existem os ocorridos marcantes, aqueles que ficam impregnados na recordação, como se fossem um arquivo que não pode ser deletado; e, para que isso aconteça, é necessário que tal fato seja no mínimo diferente, assim como foi o ocorrido que inspirou esse escrito.

Embora a frase 'o mundo está de cabeça para baixo' seja usada há muitos anos, é nítido como a luz do Sol que ela vai fazendo mais e mais sentido com o passar do tempo. A constância do anormal se mantém e os assombros se tornam corriqueiros antes de, lamentavelmente, virar conduta normal.

Não é surpresa para ninguém que muitas pessoas estão transformando o que, em situações normais, era intimidade numa verdadeira imoralidade. As demonstrações de afeto em público, antes contidas e ponderadas, se metamorfosearam; perdeu-se a noção e o bom senso parece completamente extinto. Trazem para público aquilo que outrora era apenas propício estando a sós. Muitos beijos e toques que certos casais protagonizam em locais públicos me levam a entender que, dentro da mente deles, pensam estar no quarto, ou lugar, onde fazem 'suas coisas'. Entendo que muitos dos casais que se portam dessa maneira são apenas imorais ou sem-vergonha na cara mesmo, assim os classifico. Porém, existe outro fator para ações que deveriam permanecer no íntimo se tornarem públicas, a falta de noção; e posso adiantar que em qualquer dos motivos, sinto uma profunda vergonha e indignação.

Voltando para o que menciono no início e juntando com essa última parte, para situar o leitor, esclareço que foi um casal com ações, digamos, impróprias e esquisitas para uma via pública que me fez arquivar na memória o que minhas retinas viram; e pelo que notei, entre os dois imperava a falta de noção, pois, não me parecia haver traços de imoralidade neles, visto que pareciam ser daquele tipo "bicho do mato"; o que não os impediu de protagonizarem cenas que, como mencionei no início, são difíceis de esquecer.

Os dois estavam aos beijos na beira de uma avenida movimentadíssima em frente a um Shopping. Atrapalhavam o fluxo de pedestres na calçada, não se importavam com os olhares dos motoristas e dos inúmeros transeuntes; e o que fazia aquela cena ser mais chamativa era o modo como beijavam. Já mencionei que não os classifiquei como imorais, e sim como 'pessoas sem-noção', pois, não havia movimentação das mãos pelas partes íntimas ou outros toques mais 'calientes'; porém, a conjectura era minimamente esdrúxula. Sinceramente, eram os beijos mais bizarros e feios que já presenciei. Ela parecia sem forças, inerte, com os braços abaixados e colados no corpo, sem um mínimo de postura. Ele, meu Deus, mais estranho ainda, parecia um bicho-preguiça, também sem postura, com os braços por cima dos ombros dela e movimentando os lábios de maneira incomum. Pareciam dois parasitas grudados, presos um ao outro, alheios ao movimento da grande cidade e a toda vergonha alheia que causavam. Observei por alguns instantes aquela cena vexatória e me retirei andando devagar, olhando para trás enquanto me distanciava, ainda meio incrédulo, com o nível de vergonha alheia no máximo, lamentando não haver uma lona preta para jogar por cima dos dois e cobri-los, para os poupar da exposição patética a qual estavam e, principalmente, evitar que outras pessoas também vissem aquele 'horror romântico' que não sei dizer quanto tempo durou, mas posso afirmar que aquilo tudo foi bizarro e, talvez por isso, inesquecível.

Edu Sene
Enviado por Edu Sene em 13/10/2023
Reeditado em 13/10/2023
Código do texto: T7907444
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.