Arrogância 2

João Batista é o pai e a mãe da paciência. Pouca gente entende como ele consegue manter a amizade com Pedro, um cidadão pra lá de arrogante. Pedro é o dono da verdade, pra qualquer assunto, sempre tem razão. Não admite ser contrariado. Fala com o nariz empinado sobre qualquer assunto. Tem respostas prontas sobre a vida e a morte.

Certo dia, Batista resolveu reagir, com seu jeito manso. Lascou na cara de Pedro, que ele era arrogante. Pra quê? Recebeu de volta uma enxurrada de ofensas. Você é que é arrogante, João, com essa falsa humildade. Eu digo o que penso, na lata. Você fica dando voltas, gaguejando, não tem opinião própria. Sua paciência é só de fachada, como para dizer, olha como sou humilde. Sabia que a humildade não passa de uma estratégia arrogante? Mas peraí, Pedro, retrucou João, que não teve tempo de completar o pensamento, peraí que nada, você me ofende e diz peraí? Quer saber quantas vezes você me ofendeu? Lembra aquele dia em que te disse pra me fazer o favor, eu pedi por favor, de fechar a porta do carro devagar e o que você fez? Bateu a porta com violência! Que é isso agora, Pedro? João tentou retrucar, mas Pedro continuou, e quando te pedi pra limpar os pés, antes de entrar em meu escritório, você chagava da rua, não ouviu o meu pedido, entrou e sujou o tapete, fiquei calado e ainda te servi um cafezinho com biscoitos. Você é ingrato, João Batista, vem me chamar de arrogante assim, na maior cara dura, você devia era me agradecer por ter te levado a UPA, as vezes em que paguei, sozinho, as conta de bar. Não só pra você, mas pra turma toda. E quando....

João Batista não teve tempo de esboçar qualquer reação. Pedro tinha sempre razão.