Ando tão chata! Vocês já se sentiram assim?   Parece que estou estancada  bem no meio da vida. Tantos questionamentos, tantas perguntas que as respostas se assemelham a aqueles testes com múltiplas escolhas. Em qual quadradinho coloco meu "x"?

Sinto a perda daquela adolescência interior - sabem do que estou falando? Quando nos tornamos chatos, querendo adivinhar o que vai acontecer? O mais delicioso da vida é pensar sem medo e simplesmente se jogar.

Mas, o que acontece é que passei dessa fase de me jogar. Por mais que eu dê uma “jogadinha de leve”, fico com as duas mãos agarradas no parapeito da janela e com os pés grudados no chão.

Dá para entender esse momento? Faltam as asas! Aquelas asas que me faziam voar alto sem medo de cair. 

Que pena que quando me dei conta, já havia passado daquela linha do ousar. Ou seja, dou uma ousadinha comportada, voos rasantes, mais medrosos. Sonho -  mas com a realidade estampada diante de mim. Tornei-me uma advinhadora do futuro, baseando-me em coisas que já aconteceram. Fico achando que posso prever  as situações, evitar os erros, e  até tento fotografar o proximo capítulo.

Como é chato isso… como é chato.

Sinto saudades da antiga Mary. Como trazer de volta aquela falta de medo de  caminhar à beira do precipício? Os voos altos, as asas batendo nas nuvens, e a cabecinha tocando os mais altos sonhos!

Ando tão chata que ando cansada de mim. Pareço estar sentada diante do livro da vida, tentando decifrar o próximo capítulo. Quando desenho meus sonhos, sem que eu perceba, começo a colocar os empecilhos. Aí vem a tal palavrinha "mas..." Quero uma vida sem “mas”, sem hesitação. Quero brincar com o momento, andar sem medo de cair,  viver sem medo do amanhã.  Sim, eu ando chata. Querendo mudar o mundo, sentir o que os outros sentem, adivinhar o futuro. E minha bola de cristal , cheia de poeira, voltou a brilhar. Passei nela aquela flanelinha e estou eu a querer descobrir o amanhã. Por tanto tempo eu a deixei escondida, sem me preocupar com ela.

Ah! por favor, me tirem  dessa chatice! Ofereçam-me um sorvete de ilusão, com cobertura de asas em cima de uma bandeja de precipício.

Quero fechar os olhos e saboreá-lo com a alma. Curtir essa delícia,  lambendo-o com cara de criança -  enchendo minha alma de sonhos.

 

 

 

 

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 23/10/2023
Reeditado em 23/10/2023
Código do texto: T7915470
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.