A CARA DO PARAÍSO (BVIW)

Paraíso, palavra bonita que vem carregada de boas impressões. Se alguém diz: "É o paraíso" já fechou sentido, não é preciso dizer mais nada. À minha cabeça, vem uma imagem da novela “A Viagem”: um lugar aprazível com flores, relva verdejante, árvores frondosas, barulhinho de água borbulhante, com pessoas de vestes claras e vaporosas se encontrando após a morte, na tão sonhada paz. E como seria mesmo o Paraíso? Incrível, mas há quem o dispense, por imaginá-lo um mar de marasmo. A verdade é que não alcançamos concebê-lo — ele sempre será parte do nosso imaginário. Enquanto isso, vamos vivendo nossos quase paraísos possíveis na Terra. E esses podem ser o que nos deixa felizes. O meu, por exemplo, pode ser medido em metros quadrados. Tem uma janela aberta para um pequeno jardim, com canto de passarinho e ninho de rolinhas. Dentro dele, eu me movimento "daquiprali", sendo feliz ao meu modo. Nesse momento, meu quase paraíso, declaro, é um naco ocioso, e precioso, de tempo em que me sento no meu canto preferido, tendo às mãos "Chica que Manda", romance do Ciclo do Diamante nas Gerais, de autoria de Agripa Vasconcelos. Por suas páginas, percorro outro Paraíso: o da Chácara da Palha, onde, segundo a história, viveu Chica da Silva, figura marcante dos remotos tempos do Arraial do Tijuco, hoje Diamantina. A partir dessa premissa, sim, eu afirmo, o quase paraíso existe e pode ter várias caras.

Tema da semana: Quase um paraíso (crônica)