Ele apaixonado

Havia uma larva que eclodiu e dela nasceu um serzinho mais amoroso da sua espécie. Irei chamá-lo de Narcis. Entre seus irmãos, era o mais rebelde. Queria desbravar o mundo, desafiar os ventos, os tempos e as luzes. Ansiava por descobertas, pois sentia tédio em permanecer no mesmo lugar. Tinha que esconder-se na luz e voar na escuridão, aprisionar-se no espaço úmido cheio de tantos animais, arriscando-me em dizer que se tratava de um curral. Ele queria ir mais além, onde as noites acendiam-se as luzes. Era para lá que desejava sobrevoar e foi. Em seus voos, muito tortos, nervosos e inseguros, batia suas asas com a esperança de chegar logo ao seu destino e o medo o guiava até aquela luminosidade.

O que estaria ali a sua espera? Qual animal reconheceria? E voando até a luz, sorridente por ter chegado, é impedido por algo que o derruba. Ele desconhecia o que seria um vidro de uma janela. Olhou para dentro do local, viu uma moça de cabelos longos e negros, algo que caía água e tinha vida dentro e ela tocava um som com um instrumento que também nunca tinha visto. Tudo ali era uma novidade e ele tentava entrar sem sucesso, porque o vidro o impedia. Ele por muitas horas tentava, se sentia exausto, parava e voltava a tentar. A fome, o cansaço, a desistência começaram a tomar conta dele. Pensou na volta, se conseguiria ter energia para isso. Olhou- a novamente e viu traços nela de tamanha perfeição, perdendo-se por horas a admirá-la, já não havia fome ou cansaço, ele queria entrar. Era ela!

Passou um dia e em uma tentativa, já sem muita esperança, ele entrou e começou a bater suas asas tão lentamente, silenciosamente, pequenos voos, pois não tinha força para isso e percebê-la ali dormindo vulneravelmente o fez ir até ela fazendo chiados em seus ouvidos que pareciam mais gritos de felicidade, pois ali estava o seu alimento, sangue, para devolver suas forças, mas se ele fizesse sentiria estar profanando e não fez. Procurou outro alimento. Ela ouvindo os chiados abriu seus olhos que o fizeram se esconder. Por todas as noites seguintes ele ia até seus ouvidos, chiava, ela abria seus olhos e ele se escondia. Virou uma rotina para ela e uma adoração para ele. Porém ela, começou a achar estranho aquele comportamento. Ele fazia barulho em seus ouvidos, mas não se alimentava dela. Ele a acordava e isso a irritava. Até que um dia, ela fingiu que dormia e como de costume ele voou até o seu ouvido. Ele então começou sua cantoria, sorrateiramente ela ligou sua raquete elétrica e o eletrocutou.

Ele havia se apaixonado pelos seus tristes olhos verdes esmeraldas, voava até seus ouvidos para cantar e se hipnotizar com a visão deles. Aquele barulho era ele cantando para que ela pudesse ver nele o mesmo brilho que ele via nela.

Ele foi o mosquito apaixonado... e assassinado.

Dory Mendonça
Enviado por Dory Mendonça em 25/10/2023
Código do texto: T7916725
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