Afinal, o estresse é o quê?

Considerado o ‘mal do século”, ‘obra malévola da modernidade”, efetivamente o estresse é um agente impactante, desarmônico, que nos tira da nossa zona de conforto, provoca tensão, ansiedade e até, muitas vezes, comportamentos e sentimentos ruins podendo até mesmo nos levar a um estado grave de saúde. Mas, será que o estresse é efetivamente um vilão, um mal desnecessário?

Afinal, por que o estresse nos abala? Por que se instala e nos corrói??

Precisamos entender a sua origem, a razão de seu impacto em nossas vidas, suas causas, os possíveis caminhos para conseguirmos lidar com ele, assim como suas consequências para respondermos a essas perguntas.

Pra já, não sei porque culpam tanto a modernidade pelo estresse já que ele nos acompanha desde que nascemos. Quer algo mais estressante que deixar um ambiente morno e aconchegante para, de repente, após um esforço descomunal, cair nas mãos de alguém que já nos recebe com uma palmada, só para nos fazer chorar!? Fora isso nascemos em um ambiente tenso, com gritos, muitas expectativas e também bruscas mudanças, de líquido para gasoso, de úmido para seco, e nós, completamente nus, em meio a esse cenário, ainda tendo nossa única fonte de alimento imediatamente cortada. E isso é em um parto normal. Mas fato é que já chegamos ao mundo de forma impactante, estressante.

Então, por que o espanto? Admitamos, o estresse faz parte deste mundo e precisamos o encarar com mais naturalidade. Presente ao longo de toda a história da humanidade, comum a todos os seres, não só os humanos, mas também os animais, até mesmo os vegetais (quem nunca ouviu falar daquela planta que morreu logo após ter sido alvejada pelos olhos invejosos da visita?). O estresse não poupa idade, gênero, não quer saber de status ou fama, todos passam por ele, de uma forma ou de outra em alguns (ou muitos) momentos da vida.

Nada existe ao acaso, sempre há um propósito para algo se o reconhecemos como inexorável, irremediável. Então, qual seria a razão de existir o estresse em nossas vidas? De termos de conviver desde que nascemos com ele? Seremos nós os seus criadores? Qual a causa, a origem do estresse e, mais importante, já que estamos no quarto parágrafo e isso pode estar se tornando estressante para você… “COMO LIDAR COM ELE ?”

Calma, é relativamente fácil. Melhor dizendo, não é impossível se sair bem dele.

Primeiro: Conhecer bem a causa, pois há causas e causas, o agente estressor é sempre impactante. Pode ser algo físico, acidental, mas pode ser mental, sentimental, emocional. Dependendo de onde venha, é dentro de nós que o estresse pode gerar um ensinamento ou uma catástrofe, podendo até nos jogar num atoleiro, pior ainda, numa areia movediça, em que quanto mais nos mexemos, mais nos afundamos.

Segundo: procurar o real motivo que nos atormenta pois, se ele é fictício, começamos a brigar com um inimigo invisível, por isso indestrutível. Interpretações erradas, falsas expectativas, crenças sem pé nem cabeça, pensamentos arcaicos, medos infundados, sensação de impotência e muitas outras mazelas criam agentes estressores fictícios. Com o tempo, visto que não o conseguimos deter, os resultados vão se avolumando de tal forma que aparecem os sintomas indesejáveis, tais como: perda de sono, alterações de humor e de comportamento, desequilíbrio mental, desânimo, improdutividade, além de distúrbios que afetam gravemente nossos hábitos e a saúde em geral.

Terceiro: Newton precisou chegar à sua terceira lei para descobrir que ‘toda ação exige uma reação de mesma intensidade, na mesma direção e, em sentido oposto’, portanto, é necessário agir. Boa parte do estresse está ligada à como o regemos em nosso organismo. Para todo o problema há uma solução (salvo se vivermos num país desumano, sem leis, sem justiça, sem democracia. Governos humanistas que visam uma maior distribuição de renda, com programas sociais e justiça para todos são necessários para descartar essa hipótese).

Então, afinal, será que todo estresse é negativo? a resposta é NÃO! Qualquer coisa que possa gerar uma forte emoção ou uma mudança pode ser considerada uma fonte de estresse, mesmo as consideradas positivas ou boas.

“Em 1965, o pesquisador Seyle estudou a reação do estresse como a Síndrome de Adaptação Geral (SAG), ou seja, como uma resposta natural e até saudável do nosso organismo na tentativa dele se adaptar a uma situação difícil ou ameaçadora a fim de reestabelecer o equilíbrio inicial”

As reações do estresse nada mais são do que uma resposta natural do organismo para se adaptar e recuperar o nível normal de bem-estar e equilíbrio do seu corpo (homeostase). Como se processa? Primeiro, rompendo o equilíbrio para depois retornar eliminando a fonte estressora ou a enfrentando da forma mais adequada, mas ela precisa efetivamente existir para ser combatida.

Quer um exemplo de um estressor real e um fictício? Digamos que uma pessoa desconfie que a sua empresa cogita em demiti-la. Isso irá provocar um grande desconforto. Se ela for uma pessoa saudável, acionará seus mecanismos de defesa: um inconsciente (baseado em suas experiências passadas) e, outro, consciente (baseado em avaliações de dados e fatos) para descobrir se a ameaça é de fato real. Caso se confirme, automaticamente, virá o alerta: ‘faça qualquer coisa antes que o pior aconteça’. E isso é ótimo! Pois uma mente consciente começará a procurar antecipadamente soluções, desde novas oportunidades de emprego, reativar seu contatos network, melhorar a sua produtividade se empenhando mais no trabalho ou ainda poderá sondar com seu superior uma negociação, enfim, de algum modo ele irá combater o problema com uma solução (reação em sentido contrário).

Mas, vamos que isso aconteça com uma pessoa deslocada da realidade, do seu consciente. e vê na ameaça algo real. Seu organismo recebe a ameaça como algo certo de acontecer e reage sob a influência apenas do mecanismo inconsciente (primário) de defesa. O temor se instala sem filtro, pois não há um processo cognitivo de avaliação, que chamamos na psicologia, de Coping. Começa então a tensão, deixando vir à tona apenas o emocional que transitará de forma impulsiva entre diversos sentimentos, desde baixa-autoestima à raiva, desmotivação, revolta, chegando até mesmo à paranoia, violência ou depressão. E toda esse desatino levará efetivamente ao resultado temido com o agravante de vir acrescido de algo pior, uma justa causa, por exemplo, que agravará ainda mais a situação.

Tudo que está à nossa volta é um mundo à parte de nós. E, como sabemos, de um mundo que nos recebe com palmada devemos perceber que mudanças, impactos são necessários e, em alguns casos, podem até nos salvar. Mas precisamos cuidar do nosso organismo, em todos seus aspectos, físico, mental, emocional e até, da nossa conexão com a, ainda pouco cientificamente explorada, alma, buscando incessantemente a verdade, a consciência e o conhecimento de si e dos fatos ao seu redor.

Nosso fortalecimento como seres complexos, máquinas infalíveis, de múltiplas dimensões e possibilidades, originais e curiosos faz com que automaticamente consigamos lidar com o estresse que a vida nos impõe, como elemento propulsor necessário para mexer com nossos padrões, crescermos, amadurecermos e criarmos mecanismos de defesa que só nos fortalecerão.

Dessa forma, conscientes da realidade, a resposta é, sim, o estresse é um mal NECESSÁRIO.