Uma boa história é a tua

“sem uma história em comum, não seríamos capazes de nos unir emocionalmente.”

Carl Jung

E foi exatamente assim que se criaram histórias, das mais variadas, algumas delas eternizadas através dos tempos, séculos, gerações. Muitas, realmente, chegaram a ‘unir’ a imprevisível, criativa e indomável humanidade na mesma sintonia e sentimento.

O(s) autor(es) dessas histórias milenares são na maioria, até hoje, desconhecido(s), mas fato é que conseguiram conquistar seguidores fiéis, unindo-os em torno de sua(s) obra(s), atingindo seus objetivos, traçando caminhos, apontando uma só direção, formando uma crença, e (por que não?) uma religião que definisse, preto no branco, o certo e o errado, a santidade e o pecado.

Histórias que se transformaram em livros sagrados, desde o ‘rigveda’, dos hindus, a.c.. às bíblias cristãs, ao alcorão islâmico, ao torá judaico narrando enredos dificilmente prováveis, como nas lendas, com seus mitos e suas mais diversas teorias.

Histórias tantas vezes repassadas, repetidas, copiadas, transpassadas, reinterpretadas, marteladas, religiosamente, todo santo dia em nossa dura, e ainda em formação, caixa craniana que acabaram por se transformar em puras verdades. Incorporaram-se ao EU coletivo, escondendo o indivíduo, Desse modo padrões de hábitos, condutas, pensamentos, julgamentos baseados em seus escritos se fizeram tão naturais quanto o simples ato de andar.

Histórias que criaram sociedades, culturas, dividiram povos, acirraram divergências, culminaram em guerras, por acreditar, cada uma delas, trazer a única verdade, absoluta, inquestionável inspirada por Deus, Alá, Jeová, Brahma ou outra divindade, apesar de, vamos ser honestos, racionais, ter sido escrita por alguém.

Eu, particularmente, duvido tanto quanto acredito em histórias sem provas e autores desconhecidos. Como um conto, valorizo a criatividade, a fantasia, mas daí virar um manual de vida e, pior ainda, padrão de conduta, a distância é grande.

Não, isso não me faz uma pessoa incrédula, distante da fé, muito pelo contrário, acho que procuro defendê-la, preservá-la da influência humana. A reconheço em todos os fenômenos e seres que não fomos capazes de criar. Está na natureza, no nascimento-morte-renascimento, está em vidas que se encontram e desencontram a que chamamos destino, está na troca de experiências e conhecimentos num processo sempre evolutivo.

Eis porque prefiro ouvir a tua história, que possivelmente não baixou de um raio ou de um clarão de luz iluminando a tua cabeça, ou de um velho barbudo soprando ao seu ouvido, mas sim de um Big Ben de genes, células, químicas, sofrendo mutações, armazenando dados, equilibrando energias e que num processo de criação, traz ao mundo um novo personagem, um autor-protagonista de uma história única para contar.

” – Mas sendo única, não é comum a outros, não une!” .

Em parte. Para ser uma história tem que haver personagens, no mínimo um. Precisa também de uma sequencia de fatos que se interliguem, afinal toda ação gera uma reação, mesmo que condicionada a um determinado ambiente externo, assim como fatores congênitos, psico-biológicos e ancestrais dos personagens.

Porém, dentro de condições semelhantes, sempre haverá experiências de vida comuns entre o seres humanos. Não criará necessariamente uma única forma de sociedade ou religião, um clã, ditando regras e julgamentos, mas ajudará seguramente à um grupo que sofre dos mesmos males ou possuem as mesmas experiências.

O único desafio é saber contar a tua história. Algumas habilidades são necessárias como a clareza de raciocínio, respeito à cronologia dos fatos, detalhes, para que soe verossímil. Precisa também de algumas virtudes, como criatividade na narrativa. O tom escolhido pode fazer da mesma dor um drama, uma aventura ou até uma comédia, dependendo do seu humor. O foco da sua história pode ser encontrar sua alma gêmea e todo o resto servir apenas de plano de fundo em face de um grande romance…

Mas vou lhe dizer que o fundamento de uma boa história, que realmente une e capta a atenção das pessoas, não são as pérolas, as bondades, muito pelo contrário, curiosamente a raça humana se encanta com os problemas, as falhas, defeitos, dor e sofrimento. Caso contrário, o texto se torna enjoado, chato, inverossímil, monótono como ver um chumaço de algodão na neve.

Seja como for a tua história caminha sozinha pelos capítulos da vida sempre em busca de uma saída vitoriosa. A busca da salvação é inerente ao ser humano, mas também pode ser sofrida, como uma curta poesia, mas que não deixa de ser vida.

Minha intuição me diz que somos marionetes de uma estrela que impulsiona o personagem a sempre encontrar o seu destino.

por isso, uma boa história,

é aquela que você vive,

mesmo que pareça não fazer sentido,

Kawer