Fim de papo

Registro o ponto no leitor digital após três minutos de espera para que não haja críticas vindas do Departamento de Recursos Humanos. Hugo: colega , advogado, chainsmoker e fã de heavy metal alemão apalpa o maço de Lucky Strike filtro vermelho no bolso do colete como forma de controlar a ansiedade.

Na rua aceito um cigarro e fumamos até o bar mais próximo. Alberto nos acompanha, porém não é tabagista e está com azia devida à uma empada ingerida numa hora imprópria. Conversa pouco e logo que chegamos ao estabelecimento pede uma água tônica.

Após duas ou treze garrafas de cerveja, acertamos a conta e partimos. Alberto caminha claudicante até seu prédio de apartamentos. Vamos para outro rumo.

—Hank, é preciso ter coração duro.

Hugo bate duas vezes no peito com o punho cerrado. Acende um cigarro na brasa do anterior e me oferece o maço. Saco um e acendo com meu isqueiro.

A pauta era Tankard, Accept, Kreator, Saxon e por aí vai. Comenta sobre uma letra do Rammstein que conta a história de um canibal e tenho náuseas.

— É pra passar mal mesmo. O ser humano é uma merda... Olha aquela mina, mora no mesmo andar que o meu. Estuda biomedicina.

—Tem atitude.

—Sim, volta e meia trocamos uma ideia tomando café no saguão do prédio. Tem uma banda de punk rock e torce pro Comercial F.C.

—Massa.

— Saideira?

Recuso a bebida, mas aceito um cigarro. Caminho os sete quilometros que faltam para chegar em casa sem pressa.

Na sala minha mulher ouve Raul na vitrola dizendo que não há galinha em seu quintal. Esqueci de trazer uma garrafa de bebida escondida até por que ela não liga e bebe junto.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 30/10/2023
Código do texto: T7920617
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