O NOVO DISFARCE DO SNI

O NOVO DISFARCE DO SNI

Nelson Marzullo Tangerini

No dia 30 de outubro (de 2023), o jornal O Globo publicou uma carta minha, na qual questiono o trabalho sujo da ABIN, herdeira do finado SNI:

“Lendo as matérias de O Globo sobre a ABIN, percebe-se que o antigo SNI apenas mudou seu disfarce.

Seu ideário continua o mesmo: grampear jornalistas, políticos de oposição, indigenistas, ecologistas, IBAMA, oposicionistas, intelectuais, artistas etc, como o fez, recentemente, a pedido de Jair, o pior presidente do Brasil.

Em momento algum a ABIN grampeou madeireiros, garimpeiros e a milícia digital a favor do capitão.

Que a imprensa continue a trabalhar pela democracia e pela liberdade de expressão”.

Eu poderia ir mais longe, nesta carta, e perguntar por que a ABIN não grampeou os filhotes do genocida e os quatro pastores midiáticos, tão conhecidos de nós, que se enriquecem a rodo, às custas dos humildes, seres fragilizados por graves doenças ou por sérios problemas familiares. E é óbvio que esses crápulas, lobos em peles de cordeiros, não foram grampeados, uma vez que apoiaram incondicionalmente o capitão durante esses quatro anos de governo autoritário e fascista. Porque o fundamentalismo cristão, obtuso, negacionista, era o caminho certo para combater intelectuais progressistas que pensavam um outro mundo – melhor, fraterno e libertário.

Soubemos, também, que a ABIN foi responsável pela exoneração do presidente do IBAMA, que estava na cola de madeireiros e garimpeiros, bem como na do jornalista Dom Phillps e do indigenista Bruno Pereira, que denunciavam crimes ambientais e assassinatos de lideranças indígenas, bem como de estupros de índias – hoje, muitas delas estão grávidas de garimpeiros. Sendo assim, onde estava a ABIN? Fechou os olhos para esses crimes hediondos? Deixaram os Yanomami chegarem à beira da extinção?

O fantasma do bolsonarismo não foi de todo extirpado. Suas células, cancerosas, se desenvolvem lentamente por todo o corpo desta nação, hoje dominada por magnatas religiosos, donos de fortunas milionárias, como emissoras de rádio e televisão, e que, nas trevas, articulam a retomada do fascismo. Ao mesmo tempo que se dizem defensores da família e dos bons costumes, combatendo o aborto, por exemplo, declaram-se a favor da pena de morte. E, quiçá, da tortura, como o ídolo que seguiram cegamente.

Pelas ruas, nos supermercados, ainda ouvimos pessoas declararem que não assistem a telejornais ou que não leem jornais ou revistas. Percebe-se, nitidamente, que essas pessoas, de má índole, temem abrir a mente e mudar de opinião. É o medo da luz de que fala Platão. Como discutir com esse gado acéfalo que segue feliz para o abatedouro.

O imbecil é tão orgulhoso de seu baixo qi, que é capaz de dizer que não acredita nos livros de História, apenas na bíblia. É o que muitas vezes ouço aqui e ali.

É contundente o que escrevi, sem medo, pois tal assunto já estava fazendo ondas nessa piscina cheia de ratos, como diria Cazuza. Lembrando ainda do poeta, acho que ninguém consegue entender como gente tão religiosa transforma um país num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 02/11/2023
Código do texto: T7923099
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