Que rei sou eu?

Um dia destes, os homens simples do povo pediram a Deus que lhes desse um rei dentre os homens para que os ajudassem a resolver os problemas corriqueiros da vida. O bendito rei que viera do povo, trouxera a tiracolo todas as suas insígnias de poder, tais como cetro e coroa, legitimando assim as bases de seu reinado na Terra. Como o representante de Deus na Terra, não precisaria dar satisfação de seus atos a ninguém, apenas a Deus.

A primeira ordem do rei foi para erguer um castelo para a sua própria segurança, pois todo rei que se preze tem que ter a sua fortaleza. Agora tudo ( tudo mesmo! ) teria que ter o dedo do rei. O rei seria a fonte da lei, ou seja, a "lei viva". Afinal de contas, fora indicado por Deus para liderar os homens simples do povo em direção à ordem, à harmonia e a tão sonhada prosperidade.

O rei, recém-empossado, procurou andar nos mandamentos do Senhor. Mas, logo ele acabara se acostumando rapidamente a boa vida. Esquecera o que havia prometido e deixara os homens simples do povo "a ver navios". Para manter a mordomia de sua corte e satisfazer todos os mimos de sua rainha, passara a cobrar tributos exorbitantes de seus súditos e governados, tornando-se um déspota maldito em pouco tempo de reinado. Em resultado disso, passou a ser odiado por muitos e amado por poucos. Com tanta magnificência, tanta grandeza e tanta fome de poder, despertara até a ira dos deuses do Olimpo.

Deus sentado em seu trono celestial , observando de longe as manobras sorrateiras de seu filho de sangue azul para aumentar a sua rede de privilégios, mesmo se sentindo traído, já não poderia fazer mais nada. O destino dos homens simples do povo estaria agora em suas próprias mãos.

Após muito tempo de privação terrível e abandonados à própria sorte, os homens simples do povo resolveram fazer justiça com as próprias mãos. Arrombaram os portões do castelo e, como selvagens enlouquecidos, promoveram um verdadeiro festival de horrores, matando sem compaixão quem ousasse permanecer a sua frente.

Logo chegaria a vez do rei. Para ele estaria reservado "o melhor da festa". No centro da praça, uma multidão o aguardava gritando palavras de ordem. Diante da morte brutal iminente se arrependera de todas as falcatruas que fizera em nome do poder absoluto, mas era tarde demais. Assim, o rei perdeu a sua majestade! A sua cabeça fora ceifada de seu corpo pela gélida lâmina da morte.

Os Reis do Brasil que se cuidem! Os homens simples do povo, finalmente, despertaram!