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O SILÊNCIO DAS ESTRELAS

 

Quando tinha os meus 10 anos,  morávamos em Ubatuba. Essa cidade, naquele tempo, ainda não havia sido descoberta pelos turistas. Nas nossas aventuras, encontravamos lugares escondidos no meio da mata, e que muitas vezes pareciam cenas de filme.

Em um deles havia um riacho em cuja beira nos sentávamos e colocávamos nossos pés na água transparente, olhando em volta aquelas árvores imensas de copas altas com folhas muito verdes. Olhando para cima, viamos o sol adentrando atraves dos galhos e folhas, deixando o ambiente todo dourado. Era nosso lugar secreto. Naquele tempo não existia celular, não tínhamos câmara fotográfica, mas gostaria nesse momento que essa imagem que tenho nas minhas lembranças pudesse ter sido reproduzida em fotografia de tanta beleza!

 

Algo que me marcou foram os dias em que faltava luz à noite e íamos todos passear na praia. Meu pai nos presenteou com uma lanterna e até hoje me lembro do céu estrelado na Praia do Cruzeiro. Não havia nada que se comparasse àquele céu. Sentávamos na muretinha da praia e ficávamos olhando para cima -  ali não cabia mais nenhuma estrela! Era de uma beleza estonteante.

 

De repente ouvíamos meu pai apontando para o céu -  olhem, caiu uma estrela! Fechem os olhos e façam um pedido!

1659677.pngQuanta beleza havia naquele momento, a nossa comunhão com uma simples estrelinha que caía e levava com ela nosso pedido e um pouco dos nossos sonhos. Era um momento especial, quando sentíamos que fazíamos parte de algo muito maior. Ficávamos a contemplá-las naquele mistério na escuridão, e compartilhávamos daquela beleza atrás daquele silêncio; nossa família, ali, unida, num momento que ficou marcado pelo tempo.

 

Hoje, quando vejo o céu cheio de estrelas sempre me reporto a esse momento único. Li, uma vez, que alguns cientistas tentaram captar o som das estrelas com aparelhos especiais, mas sem sucesso. Na verdade Deus as criou sem som, porque o sentimento mais significante é ver um céu cheio de estrelas  e ter com ele essa comunicação silenciosa, apenas perceptivel aos nossos olhos e sentido com o nosso coração. 

Na minha lembrança ficou essa lanterna imaginária, iluminando hoje meus caminhos, bem como a figura do meu pai que, mesmo sem saber, ensinou-me de uma forma intuitiva, a entender a beleza do silêncio das estrelas.

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 11/11/2023
Reeditado em 12/11/2023
Código do texto: T7929827
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