Os ciclos

Toda vida um ciclo. Há muitas e muitas situações em que a luta parece ter acabado, por vezes sinto-me aquele escravo na luta de mandingos, quando se colocavam dois negros para lutar até a morte de um deles. Eu sigo esperando o momento em que vão anunciar minha derrota, mas até lá eu sigo coberta de sangue sem conseguir de fato me sentir vitoriosa pq logo uma nova luta se anuncia p mim, eu que nem mesmo consegui limpar de mim o sangue que cobre meu corpo, um sangue que nem mesmo é meu, o que dificulta que eu reconheça quem eu sou. Há o desespero de todo humano igual em mim, eu não posso me despir de mim, e na minha solitude geralmente tenho um bom encontro, mas algumas vezes é impossível acomodar meu eu, e mesmo as lágrimas parecem ser uma solução vã...

Então restam-me as palavras, não para dizer aos outros viventes minhas agonias, seria só um no mundo a relatar dores que ninguém pode sentir além de mim. No mais eu fico presa, calo essas vozes desesperadas de todas as vivências que me dragaram até aqui, interrompo o choro que sempre nos torna suscetíveis e um tanto dignos de pena, repasso lutas antigas e porque respiro ainda, diferente dos outros que sucumbiram as lutas me tendo como adversária, sigo. Ferida. Chagas abertas, outras semifechadas, mas de certo não curadas, mesmo as que tornaram-se cicatrizes parecem me dizer da vida que ainda tenho que viver...parecem me lembrar os ciclos futuros que ecoam distraídos a repetir o passado.

Évora Solitu
Enviado por Évora Solitu em 15/11/2023
Reeditado em 16/11/2023
Código do texto: T7932610
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.