Arrependimento Tardio

ERA 1989, ano da primeira eleição direta para presidente da República depois da Redemocratização. Sempre fui da esquerda, principalmente da festiva (de certa forma continuo sendo). Nessa época estava satisfeito porque o partidão (o PCB) estava na legalidade e iria apresentar candidato à presidência. Explico esse meu frisson meio babaca: meu pai sempre foi comunista e devido a isso foi muito perseguido, então votar no PCB no primeiro turno era uma espécie de homenagem a meu pai e à minha história de vida, mesmo nunca tendo sido do partido. Assim resolvi votar no candidato do partido, um deputado bundão de Pernambuco que depois além de destruir o PCB renegou as teses da esquerda.

A minha vontade pessoal era votar em Brizola, a figura que mais admirei na esquerda, desde a época que ele governador do Rio Grande do Sul comandou a resistência para dar posse a João Goulart. Mas essa admiração não foi suficiente para me impedir de votar no PCB no primeiro turno. A minha esposa que sempre foi brizolista desde adolescente cansou de me pedir para votar no gaúcho, fez até promessa. Quando saí para votar ela me disse séria e convicta: - Você vai se arrepender de não votar em Brizola. Não deu outra. Se arrependimento matasse eu estaria morto. Sim, porque Brizola não foi para o segundo turno. Então eu e a esposa votamos em Lula que perdeu oada Collor. Brizola venceria.

Por fim afirmo que nunca me perdoei por ter votado para presidente, em 89, num deputado bundão que renegou a esquerda e não em Brizola. William Porto. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 19/11/2023
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