O melhor jogador brasileiro de todos os tempos

Quando eu era menino, costumava observar meu avô e meu pai discutindo sobre futebol. Naqueles debates havia um tema recorrente, que sempre acirrava os ânimos.

Meu pai, santista fanático, afirmava que Pelé era o melhor jogador brasileiro de todos os tempos. Vovô sorria com descaso, e retrucava que papai não entendia nada de futebol: o verdadeiro Rei do futebol brasileiro chamava-se Leônidas da Silva: o Diamante Negro, o inventor do gol de bicicleta.

Na adolescência resolvi entrar na briga. Os dois coroas estavam equivocados: o maior gênio dos gramados nacionais só podia ser Arthur Antunes Coimbra: o Galinho de Quintino ou simplesmente Zico.

O tempo, indiferente aos nossos desacordos futebolísticos, seguiu na sua marcha: casei, me tornei pai, meu filho cresceu, e para manter a tradição da família, também se tornou um especialista em futebol.

Para o meu primogênito, eu, papai e vovô, vivemos numa espécie de limbo pré-histórico do futebol, num passado onde tudo era diferente.

Diz ele, que naquela época até a bola era diferente, não obstante ela fosse redonda como as atuais. Na sua visão de torcedor moderno, o melhor jogador brasileiro de todos os tempos é Ronaldinho Gaúcho, dono de uma habilidade quase sobrenatural.

Vovô e papai continuam firmes nas suas convicções. Eu tenho lá as minhas dúvidas, mas, para não dar o braço a torcer, mantenho-me fiel ao ídolo da adolescência. Meu filho, sempre que o assunto vem à tona, nos chama de velhos saudosistas.

O conflito segue sem acordos de paz, mas também sem grandes batalhas. Entretanto, há poucos dias, um novo ator entrou em cena: meu neto, que mal acabou de ser alfabetizado, sugeriu que o maior jogador nascido no Brasil se chama Neymar Júnior, o nosso Peter Pan dos gramados.

Vocês devem perdoá-lo por tamanha heresia: ele não entende nada de futebol. E, para falar a verdade, começo a desconfiar que talvez nenhum de nós entenda. Talvez, o melhor jogador brasileiro de todos os tempos ainda esteja por nascer!