ANTISSEMITISMO X ANTISSIONISMO (1) (Não confundamos barafundo com Farabundo)

EM TEMPO de redes sociais, todos podemos ser “críticos(as)/especialistas” em todos os assuntos – não vejo problema nisso; pelo contrário, é maravilhoso! Havendo responsabilidade, compromisso e decência, ainda que muitas limitações persistam, o debate será sempre proveitoso e imprescindível. Alguns dos principais problemas nesse particular, no entanto, são as paixões ideológicas descontroladas [se é que existe alguma controlável] e o abuso da utilização da informação e dos meios de disseminação desta com fins meramente interesseiros/manipuladores e, não raras vezes, dolosos.

POR ISSO, nunca será demais nos esforçarmos para contermos esses ímpetos viciosos e viciantes e, ao mesmo tempo, promover a valorização e o compartilhamento de informações de boa qualidade, como sempre fazemos por aqui.

ISTO posto, primeiramente precisamos compreender que, não casualmente [mas as razões ficam pra outro momento], o termo “SEMITA” – e, por conseguinte, “ANTISSEMITISMO” – sofreu um reducionismo drástico, passando a ser entendido comumente como, respectivamente, “JUDEU/ISRAELENSE” e “DISCRIMINAÇÃO/ÓDIO A JUDEU/ISRAELENSE”. Isso é verdade, mas apenas em parte.

O TERMO “SEMITA” não define um grupo necessariamente étnico (judeu, grego, persa, romano...). Essa designação foi inicialmente empregada para identificar uma espécie de “parentesco linguístico” – um esforço de eruditos judeus para preservar, durante a diáspora judaica que começou com a tomada de Jerusalém no ano 70 d.C, pelos romanos, a similaridade cultural (independentemente de origem étnica e de crenças religiosas) entre as línguas faladas por povos que se consideravam descendentes de Abraão – que, por sua vez, é descendente de Sem, um dos filhos de Noé, de onde vem o termo “SEMITA”. Essas línguas são: o hebraico, o aramaico e o árabe. Algumas fontes atribuem a criação do termo “ANTISSEMITA” ao historiador alemão August Ludwig Schlözer (1735-1809), para se referir a pessoas e práticas hostis aos falantes dessas línguas, e não específica e unicamente aos judeus.

A RIGOR, etimológica e historicamente, ANTISSEMITISMO é, portanto, a discriminação/ódio/perseguição a todos que se identificam como semitas, ou seja, descendentes do patriarca Noé; e isso inclui, além de judeus, grande parte do mundo/cultura/povos árabes, incluindo os palestinos. A redução do termo para se referir exclusivamente aos judeus certamente tem motivações políticas e outros interesses não tão virtuosos.

JÁ O ANTISSIONISMO é a contestação/oposição – e não necessariamente hostilidade/ódio/discriminação/perseguição – ao SIONISMO, uma corrente político-ideológica surgida a partir das ideias do jornalista judeu-austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904), no fim do século 19. Herzl defendia que as hostilidades e perseguições sofridas pelos judeus, principalmente na Europa, só cessariam com a [re]criação do Estado Judeu, e seu lema era: “dar a um povo sem terra uma terra sem povo”, já, de certa forma, ignorando a presença dos demais povos que, há milênios, habitavam a região onde hoje vivem israelenses e palestinos.

É IMPORTANTE, pelo menos para as pessoas de bom senso e que têm compromisso com a informação e a formação, que façamos essa diferença, lembrando ainda que todo judeu se assume como semita, mas nem todos são sionistas; muito pelo contrário: o sionismo político-ideológico (porque também há o religioso) talvez seja a principal causa de divisão entre os israelenses e a razão principal da crise política vivida pelo país na última década, que enfraquecera o governo, possibilitando que tais questões (político-ideológicas) ocupassem mais espaço na agenda do atual primeiro ministro (B. Netanyahu) do que a segurança do povo, o que, indiscutivelmente, permitiu o ataque mortal do HAMAS, desencadeando a horrenda crise que o mundo está a assistir – e parte dele a se envolver diretamente nela.