Felicidade

Nunca na história humana tivemos tanta rebeldia contra a infelicidade. Então, o que mudou não é a busca pela felicidade, é que agora não estamos mais aceitando a infelicidade, a morte, a doença e a decadência. Acho que este é um problema contemporâneo: a felicidade obrigatória.

Leandro Karnal

Depois dessa análise não pensei em outra coisa senão. Que coisa! Sempre buscamos algo, alguém, o que quer que seja que nos deixe felizes, o que isso significa? Não sei, acredito que se soubesse não estaria aqui.

O grande filósofo moderno colocou bem a felicidade como algo tão desejado pelo ser humano que o mesmo não consegue distingui-la da realidade.

O que é felicidade?

Uma vida plena?

Momentos felizes?

Nada de preocupações ou angústias?

Não creio!

Estamos de fato tão ansiosos com a felicidade plena e somos tão conhecedores, ou nos achamos assim, da infelicidade eterna, que sequer sabemos o que nos rodeia.

A felicidade plena não existe e se quiserem e estiverem dispostos, posso humildemente colocar meu ponto de vista.

Leandro Karnal pontuou bem, o ser humano busca uma felicidade por obrigação, você tem obrigação de ser feliz e quem não o é não tem espaço no mundo.

Contardo Calligaris, questiona: O que é felicidade hoje? "Não gosto muito da palavra felicidade, para dizer a verdade. Acho que é, inclusive, uma ilusão mercadológica. O que a gente pode estudar são as condições do bem-estar. Nós temos um ideal de felicidade um pouco ridículo."

Eu não sou feliz plenamente, você é?

O ser humano não nasceu para ser subjugado, relegado, quando isso ocorre desencadeia uma série de infortúnios, vontades sombrias e perda de fé ou da felicidade, será?

A fé já foi assunto de uma digressão aqui, mas a felicidade não, felicidade uma palavra sobrenatural, que quando pronunciada, desencadeia uma onda eletromagnética que vai além de nós, de onde vem, porque existe, qual objetivo? Não tenho ideia.

Como disse não sou feliz plenamente e para mim essa felicidade é algo hipotético, fantasioso, irreal.

Mas a fala do grande filósofo me chamou a atenção, estamos em busca de uma felicidade obrigatória, como se fosse impossível viver sem ser eternamente feliz.

Meu Deus, ou deuses, quem consegue ser feliz o tempo todo? Quem buscaria essa felicidade eterna? Além de não existir, aprisiona quem a busca.

O ser humano hoje, quem dirá sempre, busca, na verdade, não ser infeliz, não quer dizer que busque a felicidade, até porque, essa ninguém conhece realmente, mas a tristeza, a culpa, o julgamento, esses se conhece bem e não se quer por perto.

Em um mundo imaginário perfeito ninguém sente culpa, remorso, dor, tristeza. Nesse mundo imaginário nada tem consequências ou sequências inoportunas, o caráter já se foi há muito, o que nos sobra?

O ser humano busca e sempre buscou na verdade não ser infeliz o tempo todo, o que se é possível, mas não ser infeliz requer um esforço tremendo, requer sair de seu recanto interior e viver dia e noite buscando sorrir, sentir, se abrir e isso dói.

Para não ser infeliz eternamente o ser humano, primeiro, vai sofrer, se martirizar, se sentir um merda em todos os sentidos, precisara mergulhar em seu próprio caos e consciente de seu pior poderá lutar para ser melhor.

Podemos não ser felizes o tempo todo, o que não podemos é sucumbir à infelicidade, haverão momentos de tristeza, angustia, desespero, e como dizem: Tudo bem! Esses momentos não nos traduzem como seres humanos.

Mas essa felicidade obrigatória também não. Essa é a questão!

Deixamos de ouvir o que nosso coração nos diz para dar ouvidos ao que sequer escutamos direito, o que não vem de nós, mas do que nos imputam.

Vivemos de momentos e a cada momento devemos sentir o que esse nos pede, seja tristeza, luto, felicidade, prazer, amor, decepção. É disso que o ser humano é composto, nossa capacidade de sentir e metabolizar os sentimentos que nos fazem quem somos.

Já nos culpamos demais, não podemos nos culpar ainda mais por não estarmos bem vinte e quatro horas por dia, o que seria de nós se assim vivêssemos?

Não podemos deixar que os maus momentos nos consumam, isso é um fato, a escuridão é como um buraco negro, se permitirmos nos consumirá, mas não há luz permanente, uma depende da outra para se manter em equilíbrio.

Assim, por mais que a sociedade nos peça que sejamos felizes o tempo todo, que tenhamos coragem de lhes mostrar que somos mais que felizes, somos reais, somos donos de nossas emoções e capazes de mostrar e demonstrar o que nossa alma sente e o nosso coração pede.