Rasgando a madrugada

Tenho a mania de aproveitar o ensejo do silêncio da madrugada para ler, pensar, escrever, rascunhar, rabiscar e reescrever. Isso ocorre normalmente uma vez por semana, o que faço por muito amor dedicado à escrita. Aliás tenho um relacionamento sério com a escrita, que não é de hoje, ou seja: desde a infância venho navegando o pensamento no maravilhoso espaço do mundo da arte de escrever.

Às vezes, no entanto, necessitamos de uma pausa plausível, uma espécie de recolhimento no tempo, para buscarmos e rebuscarmos novas ideias, até mesmo com o ideal de nos aperfeiçoarmos na referida arte.

Pois bem! Após mais ou menos dois meses de pausa, ou quase três, retorno aos meus vagueios pelas trilhas do silêncio da madrugada; e, demos graças por estarmos diante de um computador, o que não mais nos provoca o impulso das rasgações de papéis, perante uma máquina de datilografia, transbordando a lixeirinha ao lado da mesa. Memórias encantadoras!

O silêncio da madrugada é salutar e inspirador. Inspira poetas; inspira cronistas; inspira o balouçar das árvores e a queda leve, em câmera lenta, das folhas pelas calçadas, inspirando o vento que passa varrendo-as; inspira as luzes da cidade, que ilumina a caminhada de transeuntes noturnos e errantes da noite; inspira o sussurrar dos amantes e o desatino dos desamantes. E o luar, por sua vez, a tudo testemunha...

E aqui vamos nós, na escrita, vagueando num vagueio, entre compassos e descompassos, rasgando a madrugada, com o objetivo de encontrar alguma inspiração que se materialize em um texto que fale do silêncio, que fale dos gritos, que revele segredos... Um texto, recheado de novidades, que, ao amanhecer, possa chegar às mesas dos caríssimos leitores, acompanhado de um pão quentinho, com aquela manteiga da roça, ou da cidade, e de um café fresquinho, da hora, e que leve uma mensagem de bom ânimo para o enfrentamento das vicissitudes do cotidiano.