Sonhos... O que nos dizem?

Meu esposo, estirado no sofá, repousa a cabeça sobre as minhas pernas enquanto lhe acaricio os cabelos e as costas. Há uma enorme ternura nas coisas que nos dizemos em tom suave, quase inaudível. Minha filha de sete anos estuda na mesa da sala com um amiguinho. Estranho o fato de estarem com os braços entrelaçados, mas depois lembro que ele tem a mão direita enfaixada e que ela apenas o ajuda a escrever. Também escuto alguém falar qualquer coisa, no momento em que passa no corredor entre a sala e a cozinha. E aí ele chega, o nosso bebê tão doce e manhoso, e choraminga: - ma-mãaae... Eu, de pronto, me viro carinhosamente para atendê-lo.

E eis que começo a pensar - Hei! Não sou casada, não tenho um esposo, não tenho filha, não tenho um bebê caminhando pela casa! Então, como num tornado reverso, as imagens vão retrocedendo e esvaecendo, durante o meu atordoado despertar.

Talvez a música relaxante para ajudar a dormir tenha conseguido me transportar de um mundo alfa para um beta em segundos. Mas o que vivenciei tinha um cenário tão exuberante que permaneceu em cada detalhe da lembrança do sonho, menos no principal: minha suposta família!

Meu bebê”, dos seus quase dois aninhos, tem um corpinho macio, um perfume delicioso, cabelinhos de anjo e um rostinho tão... Não, não sei descrevê-lo! Na verdade, não consigo descrever perfeitamente nenhuma das pessoas daquela cena... “Minha filha”, da mesma forma que o amigo, tinha sua face voltada para o caderno. “Meu esposo” encontrava-se deitado de lado, com a cabeça voltada para a frente, não me permitindo ver-lhe o rosto, e a voz que escutei no corredor foi de alguém que passou tão rápido que nenhum detalhe ficou. Apenas eu me reconhecia. Apenas eu era real!

Um sonho intrigante que me acompanhou por todo o dia, pois não acredito na “instituição” casamento (casamento de viver junto, eu digo, já que podemos ser casados sem habitar o mesmo teto) – porque acho complicado dividir o “cotidiano cotidianamente”. E, como ninguém é o mesmo o tempo inteiro, há aqueles momentos em que a solidão é bem-vinda e faz-se necessária, especialmente para se evitar conflitos do viver a dois. E isso não envolve o sentimento amor, mas o respeito às individualidades.

A inquietação perdurou e imaginei que o tal sonho poderia ser algum tipo de mensagem, sei lá... Aquelas coisas que parecem um aviso, um tipo de sinal.

Quem sabe tenha querido dizer que talvez não tenha sido por mero acaso que escolhi ser professora... Que talvez deva me envolver em mais alguma ação que dedique às crianças um pouco do meu tempo, ofertando-lhes o que não tiveram dos seus pais (ou dos seus ausentes pais), e nem mesmo deles - os sonhos, mas não os do adormecer, os sonhos de tudo o que sempre almejaram, sem nunca terem recebido. Que eu reserve um pouco da liberdade que escolhi viver e busque me doar um tanto para elas. Ou, ainda, anunciar que pode ter chegado a hora de repensar algumas escolhas...


Por fim, talvez tenha sido apenas excesso de efervescência da imaginação... que acabou por se espalhar pelos caminhos do meu sonho. Como saber?

Ah, os sonhos...
O que nos dizem, afinal?
 
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Imagem via Observatório do Terceiro Setor - Google (Editada)






 
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 06/12/2023
Código do texto: T7948534
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