“OS FILMES E EU”

(ZELITO VIANA)

 

 

Ontem estive na casa de amigos de longa data, e vivi um entrelace incrível de histórias pessoais que se cruzam neste mundo pequeno.

 

Conhecemos Zelito Viana e Vera de Paula há mais de quinze anos, durante episódios de luta por melhores dias no nosso bairro, o Cosme Velho.

 

Juntos com muitos atores do bairro, moradores das comunidades locais e ONGs, ex-prefeitos, empresários, escolas públicas e particulares, museus e casas de cultura, grupo de escoteiros, escritores e mídias locais, criamos um grupo denominado REDE SOCIAL DO COSME VELHO, cuja história vale ser visitada em pesquisas por todos que acreditam na força e poder de um povo unido.

 

Dentre tantas coisas criadas por este grupo, surgiu o CINECLUBE ÁGUAS FÉRREAS, com curadoria destes dois amigos, que projetava mensalmente 1 filme em tela grande no saguão da ESTRADA DE FERRO DO CORCOVADO, da subida do trenzinho ao Cristo Redentor.

 

Entretanto, o filme de inauguração do CINECLUBE, foi projetado em maravilhosa recepção no CASARÃO AUSTREGESILO DE ATHAIDE, sobre a vida de CHICO ANISIO, irmão de ZELITO.

 

CHICO estava presente ao lançamento, para deleite de tantos que com ele conviveram em sua CITY.

 

Ontem, conversando sobre o bairro e minha recente mudança de moradia para Piraí, ZELITO me falou que, justamente a poucos quilômetros de onde hoje moro, a família tinha um sítio com um belo campo de futebol, para onde viajavam com frequência.

 

CHICO era vascaíno desde cedo, mas por pouco tempo também se tornou rubro-negro. Em seguida, entre 1961 e 1981, torceu pelo América, e depois voltou a ser Vascaíno.

 

Voltando para casa, minha mulher me contou que CHICO frequentava as festas que seu tio VOLNEI BRAUNE promovia.

VOLNEI foi presidente do América por alguns anos, época de muitas glórias.

 

Antes de sair da casa dos amigos, ZELITO me presenteou com seu livro, prometendo que a dedicatória só seria escrita no dia que viesse me visitar onde agora moro.

 

Na porta do apartamento, duas placas contam um pouco da história e da contemporaneidade do Brasil.

 

Numa reunião naquele apartamento, que serviu de cenário para o filme TERRA EM TRANSE, de CACÁ DIEGUES, se esboçou a famosa PASSEATA DOS CEM MIL.

 

Quando CHICO se foi, em 23/03/2012, escrevi para ZELITO:

 

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CASACA, CASACA, CASACA, saca, saca

 

Contar histórias, estórias também, é como “biografar a vida”. 

E a vida é feita de um conjunto de atores que habitam um mesmo corpo, um mesmo palco, sobre os quais as luzes se acendem ou apagam ao sabor das circunstâncias.

 

Quando a primeira sessão de hoje começar, e as luzes se apagarem, um ator aparecerá na tela e fará a apologia da própria essência de viver, tirando do baú a matéria prima desta metamorfose ambulante.   

 

Quando a última sessão de hoje acabar, e as luzes se esmaecerem, um grande ator permanecerá na tela, metamorfoseando-se e desnudando todos os misteriosos seres que nos acompanham ao longo do eterno sempre.

 

Dois Chicos, um Raul, deram vida aos meus bonecos de ego.

 

A Banda nunca deixou de passar, olé olá,

e eu jamais me sentei no trono de um apartamento.

 

A não ser, noites a fio, para ouvir o outro Chico, ora Justo, ora Pantaleão, um dia Bozó e outro Coalhada, sobrenome Nonato.

 

Quis a vida me dar o privilégio de chegar perto dele, conhecendo em lides cidadãs seu irmão, sua cópia, copião.

 

Na amizade criada com Zelito, e de Vera com Denise, me senti homem de fama e sorte por poder me aproximar do ídolo, do mestre de todos os atores que habitam dentro de mim, prazer de uma única vez em lançamento de filme sobre sua vida.

 

 

Lugar de contar histórias é a Praça.

 

Na minha praça tem um Chico.

 

Na minha vida, pra sempre, um Raimundo.

 

 

E hoje, eu sou até VASCO.

     (“É mentira, Terta?”)

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