TE AMO MÃE. GRATIDÃO.

(minha mãe está viva e está bem. Graças a Deus. Esse texto é um lencinho para minha saudade)

Tê-la fisicamente comigo, é fácil. Mas quando ponho o Padre Zezinho a cantar, fatalmente estamos, automaticamente, as duas a tomar café e fazer coisas.

Ela sempre a trabalhar as coisas da casa: ou na cozinha ou na limpeza da casa, ou nas plantas do quintal. Eu dava uma cota de participação, pequena, na cozinha.

Até hoje não tenho talento exemplar. Ou porque ela é expert, ou porque não criei o hábito das coisas da cozinha. Alguns dirão que é preguiça. Não é.

Meu companheiro-marido sabe disso. Por isso diz que está tudo muito gostoso. Tudo o que ele diz são a sopa, a macarronada, o feijão, o frango do Domingo. Não passa muito disso. Ele sabe que não sou talentosa na Culinária e está tudo bem. Amar também é isso. Minha mãe também aceita minha inabilidade na Culinária. Dessa vez me disse assim: "você sempre foi das coisas da Escola, né?".

Ouvindo Padre Zezinho recordo em cada música um trecho de vida que vivemos juntas ali na Casa da mãe. Recordo dias bons, dias tristonhos, dias brilhantes e dias mais acinzentados.

Hoje está acinzentado aqui. Lembrei-me de um dia em que estava tristonha com a partida de uma irmã dela. Meu pai já estava um pouco esquecido, mas ela perguntou para ele se recordava da tia. Ele disse que recordava sim. Ficaram os dois calados e tristes.

Minha mãe guarda muitas experiências difíceis. A vida na lavoura não é fácil, como tentam romantizar. Ainda mais na década de 30, 40, 50... Ela hoje com 80 e tal, ainda fala sobre a dureza daquele tempo.

Dei a ouvir Padre Zezinho hoje, para tê-la aqui, fisicamente também, porque encontrei comigo uma Biografia em Espanhol que escrevi para uma Tarefa na Universidade. É sobre minha mãe. Quando escrevi (2008), li para ela. Ela sorriu muito da narrativa. Tirei nota 9,0. Depois mostrei para ela, minha nota boa. Ela disse que a história serviu para alguma coisa.

Minha mãe é um pouco assim... Tem uma melancolia nodoada. As lembranças sempre com um tom de cinza ou roxo. Igual quando uma pancada deixa mancha.

Quando não curamos uma dor, ou experiência que nos afeta negativamente, essas pancadas, deixam nódoas mesmo. Vão-se acumulando, preenchendo a pele da memória.

De forma que cria-se um padrão, difícil de se desfazer. Ainda mais quando a pessoa nunca foi para Terapia ou algo que o valha. Não vejo nela, sintoma de rancor, só de tristeza...

Mesmo com tantas difíceis situações íntimas, criou, educou, amou seus seis filhos, e os que não puderam ficar na Terra. Auxiliou nos caminhos eleitos pelos filhos (as), ou indicou caminhos.

Até hoje é abraço pronto. Geralmente abraça mais com seus atos. Não é muito afeita a chameguinhos... Os chamegos são a Oração e os chás, as mezinhas, o almoço na mesa, os cuidados todos: do pão com café até a coberta e o travesseiro, limpos e cheirosos. A toalha de banho asseada e a postos... e o café.

Te amo minha mãe. Infinitamente te amo. Até daqui a alguns meses.

Solineide Maria (sua filha Duduzinha)

Luanda, 15 de Dezembro de 2023.

Solineide Maria
Enviado por Solineide Maria em 15/12/2023
Código do texto: T7954327
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