Um Felipe pra ficar na história

Num sábado Inaildo e Alberto como acertado a noite de sexta com Josias pra estudar seguiram num Sacramenta Nazaré lá pelas oito da manhã, desceram em frente a décima quinta companhia, na Almirante Barroso e seguiram a entrar numa viela, cujo nome me foge agora. Passaram por várias residências e comercios pequenos até depararem com o último bar, que ficava bem na esquina, acostado ao muro da COSAMPA- companhia de água do Pará, por onde findava a rua, antiga 1 de dezembro, hoje João Paulo. Passando uma cerca em madeira; lá estava a casa do Josias. A primeira, após aquele modesto bar.

Lá chegando, depois de uma caminhada de mais ou menos 2 km, sob aquele mormaço de sol de Belém, os dois depararam com a casa fechada. Depois de baterem exaustivamente, de chamarem pelo nome, de olharem pela greta da fechadura e perguntarem a um transeunte o horário, que segundo, aquela pessoa já era 10hs, resolveram ir embora.

Quando iam se retirando, Inaildo falou:

- Alberto, esse Josias fez a gente dar essa pernada, num sol causticante como esse, quando podíamos estar estudando e vai sair impune?...

E continuou:

- não...temos que dar uma lição nele. Tu não achas?...

Alberto olhou ao redor e disse:

- está certo. Vamos colocar na porta dele uma pedra, pra ele saber que estivemos aqui. Se não ele vai depois dizer, que nem viemos.

E os dois colocaram uma pedra. Depois Inaildo colocou outra e Alberto colocou outra. E os dois resolveram carregar um pedrão e colocaram as outras. Amontoaram de pedras na entrada da porta e cansados daquela peripécia, riram e iam voltando pra casa da tia Marieta, a tia do Inaildo, pra estudarem e não perderem a tarde, pois aquela manhã ficara comprometida.

Seguindo um atrás do outro, naquela pequena rua, iam dobrando a esquina do bar, quando Inaildo sugeriu ao Alberto:

- vamos tomar um refrigerante e comer algo pra gente chegar na parada?

Alberto sem opção, porque estava com fome, de pronto aceitou alertando:

- tudo bem Inaildo. Vamos lá, mas eu tô zerado.

Inaildo completou:

- Bora rapaz, eu estou te convidando.

E os dois entraram naquele bar, com cara de saloon, de faroeste americano...umas mesas nos cantos, com pessoas estranhas, aquela hora bebendo e ouvindo um brega rasgando o silêncio. Um casal amanhecido, dois rapazes duelando no bilhar, outros três, tipos mais estranhos ao redor daquela mesa e um idoso com camiseta branca no balcão da casa perguntando desconfiado:

- O que vocês vão querer ?...

Enquanto Alberto, analisava ao redor o ambiente,

taciturno, Inaildo firme disse:

- veja, por favor dois refrigerantes, um pão com manteiga e queijo.

Aquele senhor meio rústico , disse:

- se vocês quiserem tem apenas esses salgados aí na prateleira.

Inaildo perguntou:

- esses salgados são de hoje?...

Com um olhar profundo e perigoso, como se nunca tivesse sido interrogado, aquele senhor falou meio, que esbravejando:

- não vendo coisas de outro dia. Se vocês quiserem bem, se não podem voltar por onde entraram.

O momento ficou tenso, um rapaz veio lá de dentro do bar e ficou no balcão, como a vigiar a situação.

Inaildo resfriou o clima dizendo:

- calma mestre, só perguntei. E olhado para o Alberto falou:

- Alberto vais querer o quê?...

Alberto então preferiu só a Fanta uva. E o Inaildo se arriscando pediu outro refrigerante e um salgado.

Enquanto aquela ancião, preparava prá servir, os dois assentaram- se de frente pro bilhar, com a costa pro balcão.

Quando o senhor os serviu, Alberto pegou a sua fanta uva com o canudinho e Inaildo,

quando ia tomar o seu refrigerante e comer o seu salgado, deu um salto da cadeira, que a mesa de plástico perdeu o equilíbrio, com o refrigerante indo ao chão.

Naquele momento, o bar ficou agitado e mais quem queria entender, o que acontecera. Inaildo disse:

- caramba algo me bicou.

Alberto saiu um pouco de sua cadeira e lá estava identificado o desafiador, que o dono do bar, com toda a sua voz áspera e cansada exclamou:

- Felipe, Felipe não pertube os homens. Saia daí e venha pra cá.

E ele, em seu fraque preto único, ainda cismou a dar mais uma bicada no Inaildo , mas o seu tutor ralhou:

- respeite os homens Felipe. Venha já pra cá.

Nessa segunda vez, ele encarou o público e foi caminhando obediente pra dentro do bar.

Uns riam pra não se aguentar, outros, que já o conheciam se admiravam dele se encrespar . Alberto também admirado ficou a gracejar, enquanto Inaildo rindo se admirou daquele urubu, como um animal de estimação, típico do Pará.

Os dois, após o Inaildo ser ressarcido do refrigerante, pegaram rumo, mas nunca mais esqueceram a voz emblemática do ancião e daquele urubu como animal de estimação.

Após anos, os dois Alberto e Inaildo voltaram ao bar e quem estava atendendo era o rapaz, que observava. Agora mais velho e parecendo cansado, com uma camiseta, um boné e um guardanapo no ombro, meio que enrolado. No que Inaildo querendo saber perguntou:

- Bom dia, cadê aquele senhor, que atendia aqui?

O rapaz falou:

- o meu pai ?...Já é falecido.

Inaildo continuou:

- e o urubu?...

Concluiu o rapaz:

- o IBAMA levou.

Calados, em suas epifanias, Alberto e Inaildo se lembrando do episódio do urubu e daquele folclórico senhor, tomaram seus sucos e foram embora.