O turismo é uma demonstração inequívoca da desigualdade social

Eu tenho viajado muito pelo Brasil. Tenho conhecido lugares fantásticos, de natureza exuberante ou riquíssimos no aspecto histórico e cultural.

Sempre estou comprando pacotes promocionais divulgados no site da empresa Hurb que, infelizmente, embora não seja o mais seguro, eu já aproveitei muito das suas promoções. Também viajo pela Decolar. Esta última é extremamente confiável. Depois de finalizar a compra, você já recebe, por e-mail, os Vouchers da passagem aérea e do hotel em que ficará hospedado.

Mas, viajar é um luxo de poucos. Mesmo eu tendo ido à Bonito (MS), pagando R$ 1.190,00 (Mil Cento e Noventa Reais) para duas pessoas e, para Caldas Novas (GO), pagando, no pacote da Hurb, R$ 800,00 (Oitocentos Reais) para duas pessoas com aéreo e hotel incluso, nem todo mundo pode pagar, sem falar que tem muitos outros gastos na viagem além das despesas com voo e hospedagem, levando em consideração que esses valores de viagens não existem mais. São impraticáveis.

Existem viagens para todos os bolsos e gostos. Dificilmente haverá viagens para pessoas muito pobres. Até mesmo no estado em que elas residem.

Só para citar um exemplo, mais de 95% dos cariocas não visitaram o Cristo Redentor, não conhecem o principal ponto turístico da sua cidade e do seu país, menos ainda, foram no Bondinho do Pão de Açúcar simplesmente porque não podem pagar. Como guia de turismo, sempre levo grupos a esses locais e é nítido que são locais frequentados pela elite internacional e nacional, com pessoas de baixa renda, pretos e habitantes de comunidades sendo exceção daqueles que, normalmente, visitam esses locais.

Se não podem levar seus filhos no Cristo, quanto mais ir a Búzios ou a Angra dos Reis. Essa é uma triste realidade que todos sabem, mas que é melhor não falar. Fingir que o turismo é para todos é melhor do que encarar a realidade das desigualdades sociais. Só para citar um exemplo prático e de agora: acabo de comprar 6 ingressos para minha família conhecer a Terra dos Dinos, em Miguel Pereira, comprei 4 meias-entradas e 2 Cariocas, que custou R$ 340,00 (Trezentos e Quarenta Reais), o que significa a metade do valor da entrada inteira, que seria de R$ 680,00 (Seiscentos Reais). Daí, questiono: como uma família pobre pode levar seus filhos para verem os robôs dinossauros, com esse valor?

Eu, por exemplo, que comecei o texto dizendo que sempre estou viajando, curtindo meus pacotes promocionais, nunca fiz um Cruzeiro nacional. Menos, ainda, internacional. Caso o fizesse – e posso fazê-lo –, teria, como consequência, ficar, por meses, com orçamento apertado. Então, prefiro os pacotes aéreos pelo Brasil, os quais são infinitamente mais baratos, curtos e me divirto da mesma forma, sem gastar uma fortuna e passar por apertos financeiros. Em contrapartida, muita gente gosta de viver de aparência, entra até no SPC e Serasa, estoura os cartões de créditos, mas faz a sua viagem de Cruzeiro ou uma viagem internacional, mesmo sem poder.

Na verdade, o turismo é elitista, em se tratando somente do Brasil. Existem lugares para milionários, os maravilhosos resorts All Inclusive, nas margens das lindas praias nordestinas do Sul e do Sudeste do país; existem os pacotes somente com aéreo e hospedagem com café da manhã e meia-pensão para a classe média e aspirante de ricos; existe a viagem de ônibus com hospedagem em pousadas simples, hostels para os mais humildes e, simplesmente nada, para a grande massa da população brasileira e mundial. Este último grupo, que representa a maioria absoluta dos seres humanos, são totalmente excluídos dos serviços turísticos e nunca sequer ficaram hospedados em pousadas ao lado de um posto velho de combustível.

Os governos federal, estadual e municipal devem criar meios para que os mais pobres tenham direito ao lazer e a uma viagem turística anual, seja subsidiando passagens aéreas para famílias e para pessoas de baixa renda, seja obrigando que lugares, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Terra dos Dinos e muitos outros no Brasil inteiro, tenham um dia de gratuidade para os mais pobres ou, no mínimo, tenham gratuidade para alunos de escolas públicas. Estes que acabei de citar não possuem nenhum benefício para crianças e famílias de baixa renda; o Cristo Redentor, por exemplo, nem meia-entrada para Cariocas possui, o que é uma canalhice e pouca vergonha.

É imoral, antiético e desumano que somente um grupo pequeno de pessoas usufrua de pacotes e viagens turísticas. Urge uma mudança crucial nesse cenário marcado pela desigualdade.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 23/12/2023
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