O NOVO DO CORAÇÃO...

Chove como em toda véspera de Natal.

Na janela os pingos batem e escorrem com petulância de menino travesso. Sorrio de felicidade. Tudo continua igual, chuva, Natal, peru, expectativas... Cortinas ao vento, sabor de gratidão, eterna ilusão...

A árvore pequenina da nossa calçada resiste, balança, pinga e dança ao sabor do vento. É dezembro. Meu coração de criança acredita no renascimento, na luz difusa e lúdica que é o nascer simbólico de Cristo.

Nesses dias meu ideal de felicidade é recolher-me na quietude que emana após a correria das compras; é caminhar solta nas ruas vazias com a Dara, _minha cachorrinha _, arrebentar as nozes ocasionais, assistir aos filmes que ninguém vê; tudo sem compromisso, apenas para desfrutar o anticlímax do nascer de Cristo.

E não há clima para baladas, mas alma para festejar a aura.

Não tem mais balanço de fim de ano, não tem mais o que não fiz. Tem essa sensação de êxtase saciado da ceia, do vento na janela do carro, da roupa velha ou nova, do sapato que aperta ou a sandália que arrebenta. Tem esta perspectiva de que tudo pode dar certo, mesmo no acaso que visita-nos todos os anos.. De que a chave do destino está trancando o ano velho e a dourada abrindo o novo; o que sorri, que dança um passo intrépido e convida-nos a realizar.

Tem o prosaico do presépio, não importa; importa o seu significado. No nosso tem o clichê sagrado, mas também tem um cachorrinho abandonado, uma galinha perdida e um burrinho fora do script. Nosso presépio tem sonho de criança, esperança dos adultos e o riso complacente dos que se foram...

Dezembro, chuva, presépio, ceia, família, renascimento. Tudo igual, e a cada ano, tudo novo. O Novo no coração de quem se permitir sentir.

Feliz Natal a todos! Um 2024 cheio de sentimentos bons!

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 23/12/2023
Reeditado em 23/12/2023
Código do texto: T7960232
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