Então é Natal.....!

É mais um Natal! Tempo de festa! É união, reencontro, renascimento, reflexão!

Quando eu era menino, adorava o Natal. Ah, sonhava com o Papai Noel trazendo presentes na noite que antecedia o Natal, acreditando que no amanhecer teria alguma novidade na árvore enfeitada de côres e acessórios natalinos e ficava imaginando se o Papai Noel viria pela chaminé. Um detalhe: não tínhamos árvore e nem chaminé, mas vivia sonhando com a magia do Natal.

Quanta alegria ao longe visualizar a minha querida e amada bizavozinha Cesária trazendo em seus bolsos balas e doces para nos lambuzar. A criançada não comia, engolia os doces tamanha vontade. Nessa época, a gente comia panetone e castanhas uma vez por ano e ganhava presentes somente no dia 12 de outubro (Dia da Criança). Passávamos o ano, ansiosos pela chegada desse dia, que parecia distante!

E quando chegava a cesta de Natal que meu avô Antônio recebia da empresa onde trabalhava (a FIBRA), era outra festa. A gente se deliciava com as guloseimas que tinha na cesta e se minha vozinha Maria não vigiasse, a gente comeria tudo no mesmo dia. Ah quanta saudade desta época em que brincávamos nos terrenos baldios do bairro São Vito e extravasávamos no parque infantil da Vila São Manuel e nossas peladas dos campinhos da Cariobinha da minha amada Americana.

Logo mais adiante, meus queridos avós Antonio e Maria se mudaram para uma cidadezinha, próxima a cidade de Jaú, de nome Mineiros do Tietê/SP e lá formaram uma chacrinha. Com o tempo, nos levaram a morar juntos e com todas as dificuldades que tínhamos, éramos felizes. A gente dormia no chão, comia “miga” (alimento feito com farinha de trigo) pela manhã que meu avozinho fazia para matar nossa fome e um copo grande de café, desses tradicionais paulistas.

Já nessa época, meu avô Antônio plantava de tudo e criava porcos e galinhas para nosso consumo e do próprio proprietário da chácara o senhor Pedro Ferro, um homem bondoso que sempre nos acudia nos momentos mais difíceis. Nos finais do ano, meu avô matava com dor no coração os animais para a gente comer no dia de Natal. A família era unida e existia muito humor.

Lembro-me do tio João Batista que usava roupas e maquiagens de mulher nesse dia para nos brindar com seu humor e sua alegria. Tinha alguns familiares que vinham de Americana para passar conosco essa data tão importante. E meus amados avós nos faziam rezar e agradecer a Deus pelo alimento e pelo ano que estava encerrando. Aprendi nesse tempo o quão importante ser grato por tudo que a gente recebe de Deus.

Com o passar do tempo, cada um foi tomando seu rumo, as crianças crescendo, os adultos foram se tornando “inimigos” e quase nem se falavam mais e meus avozinhos foram perdendo a graça do Natal. Já não havia mais união, nem alegria, nem motivos para comemorar, a não ser a parte religiosa que sempre foi a mais importante. A gente rezava e agradecia a Deus, mas não tinha mais o abraço do ente querido e, menos ainda, toda a comilança que tínhamos quando éramos pessoas normais e nem a graça das brincadeiras.

Logo mais adiante, o tio João nos deixou e depois o tio “Arziro” também, os dois de forma trágica e traumática. E, depois ainda, veio o grande golpe: a partida do nosso vozinho Antônio para outra dimensão. Ele era a principal razão da gente se reunir, e sem ele, o Natal perdeu toda a graça e não houve mais nada que pudesse nos motivar. Cada um seguiu seu caminho e a magia do Natal, ficou presa dentro da cartola do mágico que nunca mais teve o poder de liberta-la.

Desde então o Natal é triste e solitário. A saudade daqueles momentos inesquecíveis, a dor da separação e ausência da alegria e do humor nos fez mais rebeldes e angustiados, não houve mais comilança, nem presentes, nem visitas, somente a sublime oração que nos acalmava por instantes. Cada oração, rios de lágrimas corriam pela minha face e me esforçava para esconder, para que ninguém percebesse, o quanto sofria pelo Natal.

E o que restou de tudo isso, além da saudade, das lembranças, foi a minha vozinha Maria que sempre se esforçou em nos unir e nos ajudar com sua bondade infinita e um coração que não cabe de tanta generosidade. O pouco que existe do Natal está com ela, que agora está “velhinha”, mas percebe-se no seu olhar, a tristeza do Natal. Essa tristeza nos envolve de tal maneira, que nos contagia e não é possível, nem com magia do Natal, nos fazer rir.

Assim, o Natal perdeu a graça, o brilho, o encanto agora nos olhares das fotografias que se amarelaram com o tempo e estão se desfazendo. Logo, nem mais teremos essas lembranças para reviver o Natal e a alegria se foi com cada ente querido que partiu.

“Que a magia do Natal renasça em nossos corações e que possamos vive-lo em todos os dias de nossas vidas, se reinventando, criando formas diferentes de viver, nos amando como irmãos. Que a poesia nos alimente a alma e nos faça melhores a cada dia e que o Natal volte a nos encantar!”.