MEDICINA UFRJ - 1977 (35 ANOS)
 

SACERDOTES, AO MOSTEIRO

(07/12/12)

 

 

Os olhos atentos e ágeis, acompanhados de corações acelerados e mãos frias, buscavam em letras miúdas o nome ou o número.

 

Nenhum grito, sufocado ou não, nenhuma lágrima insistente, nenhum suspiro profundo, nenhum sorriso espelhado, teriam sido mais reconfortantes. 

 

Naquele momento, apenas naquele momento, o passado e o futuro se fundiram com o presente, e daquela mistura atemporal partiam lampejos visionários, fogos de artifício, mensagens de agradecimento, e a sede de uma cerveja gelada.

 

Ansiedades descartadas, hora de aproveitar o verão de 1972.

 

Em breve encontraríamos 320 novos rostos (bem novos mesmo), com os quais iríamos conviver durante seis anos, e mais quantos cada um de nós pudesse esticar em acréscimos de saber.

 

Quando sentamos pela primeira vez nas escadarias da Praia Vermelha, e eu troquei cabelos de rabo de cavalo por uma boina verde, nascia um sentimento de amor e respeito por uma sigla de quatro letras pela qual iríamos brigar dentro e fora de seus corredores e anfiteatros, sendo sempre um único corpo, mesmo quando divididos em duas ou quatro partes, mesmo quando separados em três prédios, mesmo capitaneados por diferentes chefes, mesmo quando encarcerados ou banidos, quando atingidos por atentados e preconceitos.

 

Desde o início, sendo tantos, precisamos de lideranças (principalmente os mais reservados, como eu). 

 

E elas surgiram, 

e elas mostraram caminhos. 

 

Assim, cantamos e oramos em todos os templos sagrados e profanos, almoçamos em bandejões e na casa de amigos, formamos bons times e jogamos contra, passamos férias em praias e campos, em livros e apostilas, fizemos prova, e provamos de tudo e sobre nós.

 

Aprendemos biofísica, bioquímica, histologia, embriologia, patologia. 

E anatomia, esta em teoria e na prática (que a idade convidava). 

Amamo-nos, e alguns o fizeram em duplas. 

 

Nunca nos separamos. 

Nem mesmo os que descobriram mais fortes talentos tiveram como apagar os elos. 

 

Nestes caminhos e corredores, também aprendemos a dividir o alfabeto em quatro partes iguais (A até D; E até L; M de Maria, e os demais – com honras a 9 Sergios), e o texto abre parênteses para dedicar especial admiração aos que rodearam este meu S, aos companheiros da 22, ao Dr Claudio Acilino e ao Dr Luis Afonso Mariz.

 

 

Fechamos a graduação, nos denominando a egrégia med-ufrj 1977.

 

 

Não sou historiador, mas amante de bons contos.

Quisera haver quem colhesse todas as nossas histórias, e amarrasse nossas vidas num livro.

Capa dourada, laços cor de rosa.

 

 

Rio, 7 de Dezembro de 1977

 

Rio, 

Choro,

Aplaudo,

E me sinto honrado.

 

Há 35 anos.