Pela manhã vinha ela sorumbática e triste, até claudicava um pouco.
Parei a observá-la. Não era a mesma que conhecera tempos atrás, formosa, atraente e bela, admirada por todos, que não poupavam elogios.
Aquele dia amanhacera lindo, seria próprio para um mais expressivo desfile. O sol ardente, poucas nuvens e, assim mesmo,alvas, limpidas
como flocos de algodão.
Tudo denotava alegria, vontade de viver.
Ensejava amor.
Parecia, no entanto, que ela estava pensativa, a imaginar circuns-
tâncias, dificil seria descobrir o que pudesse ser, mas o circunspecto
olhar, distante, denotava abandono melancólico.
Na verdade, há dois meses que não a via. Ainda assim, foi surpresa
encontrá-la naquele estado. Podia-se dizer, de desespero.
Lembro-me que certa ocasião, no jardim da praça, quando corteja-
da de toda forma, repelia os galanteios, com uma indiferença assusta-
dora. Naturalmente essa atitude se originava de sua nobreza.
Seu corpo escultural, linhas perfeitas, olhos chamejantes, atraia a
atenção de todos os circunstantes. A cor de canela contrastava com os cabelos sempre em desalinhos.
Abrigava mais o corpo nos dias de frio.
Vez por outra estava acompanhada de uma senhora elegante,cujo
perfume inebriante, envolvia o lugar por onde passava, transformando
o ar ímpuro dos dias de hoje. Tonteava as pessoas que por alí passa-
vam.
Já no dia seguinte estava com um senhor idoso, alto, esguio, sem-
pre de roupa esporte, que lhe dispensava toda atenção.
Ambos acompanhantes costumeiros, deixavam notar a dedicação
que a ela dispensavam. Não gostavam da aproximação dos estranhos,
defendiam-lhe, talvez não desejassem qualquer macebo para sua pre-
dileta. Haveria uma escolha ou um fã de estirpe nobre.
Seu nome ninguém sabia, constituia um segredo. Abordar para per-
guntar poderia ensejar um desrespeito. Outro aspecto que causaria mal estar, fatalmente,seria perguntar o porque daquele estado d'alma.
Se o fizesse a incompreensão determinaria um choque irreparável. Havia um pavor de adotar-se essa atitude, que se tornaria de enternecimento.
Os diferentes comportamentos anteriores foram lembrados. A prudência mandava que não a interceptasse, reagiria por certo. E, se rea-gisse teria de correr rua afora, evitando maior desdita.
Se queria ajudá-la, até mesmo amenizar seu sofrimento, se é que
existisse, o melhor segui-la de atalaia.
Entrou em sua casa, cor-de-rosa, que era a cor predileta, de meus
sonhos, aliás de todos os moradores da localidade.
Pela casa, deveria ser rica.O tratamento dos anciões,acompanhantes dos passeios matinais, dava a certeza da opulência, Estava alí a
moradia a confirmar seu ar de aristocrata. Para confirmar acintosamente parei no portão, vendo-a. Foi direto para o quintal.
Por que não se dirigia ao interior da casa ? A porta inclusive estava
aberta .
Como desapareceu não tive dúvida, aproveitei e toquei a campainha. A mesma senhora das outras ocasiões atendeu-me.
Tomei coragem e perguntei : "O que estava a acontecer àquela formosa senhorita"?
Respondeu-me, senhorita não, senhora.
O senhor não sabia que ela se casou ?
Mais surpresa tive.
Há dois meses. Não fora o que escolheramos.
Ainda assim, ela tinha muita linha e chegamos a aprovar o casamento.
O pior estava por vir. Desse cruzamento nasceram lindos bebês,
muito dos quais puxaram à mãe.
Infelizmente, a noite passada, deixara de abrigar seus rebentos.
A tempestade que caira,os matou,eram lindo os seis cachorrinhos..
smello
Enviado por smello em 29/12/2007
Reeditado em 22/06/2008
Código do texto: T796428
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.