Caboclo Sonhador

CONFESSO que sou apenas um caboclo sonhador. Adoro uma música de Maciel Melo (o melhor forrozeiro do nordeste) que afirma logo nos primeiros primeiros versos: “Sou um caboclo sonhador/ Meu senhor, viu: Não queira mudar meu verso/ Se é assim não tem conversa/ regresso para o brejo/ diminui a minha reza”.

Sim. Sou sertanejo com muito orgulho. Sou daqueles que adoram o cheiro de terra molhada e de bosta de curral (prefiro a perfume francês).

Brincadeiras sérias à parte, mas sou mesmo um caboclo sonhador. Passo grande parte do tempo viajando no tapete mágico dos sonhos. Sonhos que retemperam minhas forças para suportar a realidade brutal, degradante, violenta e horrorosa. Sonhar é alienação? Não porque não sonho em tempo integral e não sou um omisso. Mas por que não sonhar? Por que não gastar um pouquinho de tempo no reino do faz de conta? Parece que foi Pessoa que disse: “Para viajar basta existir”.

Pois bem, em meio a tantas dores do mundo (há mais dores nele que estrelas no céu) aproveito parte do meu tempo para viajar divagando e até lembro outro verso da música de Maciel Melo: “Deixem o meu verso passar na avenida/ Num forró fiado tão da bexiga de bom”.

Sou mesmo um caboclo sonhador. William Porto. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 04/01/2024
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