OS VELHOS E A CONTRACULTURA

A “Geração 68” voltou à luta na França. Há 55 anos viraram Paris de ponta-cabeça, agora envelhecidos lutam contra o “etarismo” e se organizam para propor uma nova maneira de viver para velhos e velhas. (CNaV /Conselho Nacional autoproclamado dos Velhos). Para esses antigos militantes estudantis da década de 1960, a luta deste Conselho fundado em 2021, com cerca de duas mil pessoas atuando por toda a França, está centrada no combate ao “etarismo” preconceito que torna inviáveis os que têm mais de 65 anos, e lhes confisca a palavra, a sexualidade, as suas alternativas de vida e até a sua opção para morrer. O Conselho atua na luta de velhos militantes para garantir os seus espaços de cidadania e seus direitos de viver sem os clichês que rotulam as pessoas e as desqualificam socialmente Algumas de suas palavras de ordem lembram a época dos estudantes nas ruas : “Somos Velhos mas não somos bem comportados”/ “Envelhecer não é renunciar”/ “Novos Velhos”/ Velhos de Pé”. Com isso davam seguimento a um movimento de volta da Contracultura presente nas décadas de 1950 e 1960 respectivamente.

Uma senhora velha, de boa aparência, elegante e saudável entra em um Banco de uma grande cidade brasileira, interessada em obter informações sobre Auxilio Funerário e Seguro de Vida. Era antiga combatente do movimento estudantil na década de 1960. Entrou no recinto um pouco apreensiva porque o “Manifesto dos Velhos na França” era uma prova de suas observações sobre o tratamento dos velhos nas ruas e nas lojas comerciais e bancárias. Todos tratados como idiotas. Nos Bancos onde o acesso às máquinas simples de manusear, já era um problema a ser enfrentado por pessoas maiores de sessenta anos. De imediato chegava um funcionário solícito que ia pegando a senha para auxiliar os clientes idosos. Mesmo antes de falar com o gerente, já se estressou, pois teve de cortar o afã do funcionário: “Por favor pode parar. Eu não preciso de sua ajuda. Sei perfeitamente tirar a senha para aguardar o atendimento”.

Feito isso se dirigiu a uma gerente conhecida. Ela diz que vai ser encaminhada a um novo gerente geral, responsável por sua conta corrente. Foi apresentada a um homem jovem, bonito e com um dos braços todo tatuado. Uma figura moderninha, pois agora, não usam mais terno e gravata como antigamente. Este se apresentava como a “nova geração” de representantes do capital financeiro. Uma presença da “modernidade bancária” associada às novas engenhocas eletrônicas.

A velha correntista foi logo falando: -- Não estou querendo jogar a toalha quanto ao Seguro de Vida.

--- Mas, a senhora não tem direito porque já ´tem mais de 80 anos.

--- Então eu quero colocar outro titular, que terá o benefício, mas eu pago as cotas mensais e fico como dependente. Sei que isso é possível. Vocês não têm nenhum prospecto para que possa ter acesso às Seguradoras?

O gerente enrola dizendo que pode agendar à uma operadora, mas não dispõe de prospectos. É uma trambicagem pois ao invés de tratar do assunto da cliente desvia para falar de outra coisa. Descarta a demanda que era a solução para o caso. O que o gerente queria era aproveitar a “oportunidade” e propor alternativas de aplicação financeira ou outro Seguro. É sempre o mesmo procedimento de vendedor, atacam o cliente oferecendo um produto que não foi solicitado. Para não fugir do roteiro, falou:--- Tenho a lhe oferecer uma outra modalidade de Seguro “O Pacote Combina”. Cobra 35 reais por mês e oferece uma série de alternativas vantajosas ao cliente.

Foi neste momento que o “Manifesto da Geração 68” veio à tona: “envelhecer é ser selvagem, raivosa, apaixonada, impertinente lutando para que os velhos tenham espaço e voz na sociedade”. Foi então que a velhinha deu uma “carteirada”. Só faltou ficar igual aos juízes que mostram o anel: “vejam com quem estão falando.” Ela deu um show! Falou tudo sobre o que significava aplicar dinheiro em Bancos. Que mesmo com um valor mensal pequeno não ia engrossar o bolso dos capitalistas ladrões. Que era socialista e que odiava o mais cruel dos capitais, o financeiro. Que só não deixava o seu dinheiro em colchão ou cofre porque era mais inseguro e que com o “rentismo” acabava sobrando algum percentual aos correntistas.

Mas, a dupla de gerentes não desistia da vítima sempre com a mesma cantilena sem dar atenção ao que o cliente falava. Certamente uma tolice entoada pelos velhos comunistas, baderneiros... O gerente insistia: -- A senhora fez muito bem confiando nos Bancos. E, a mulher gerente completou:-- Lembra-se do ditado: “não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.” A velha interferiu: -- Não costumo fazer nada por impulso . Penso antes de agir. O titular procura por outra forma de convencimento: -- Vamos ver a sua conta, porque se fizer este novo Seguro podemos descontar dos tributos que paga ao Banco. A senhora argumentou: --Bom, eu lhe asseguro que pelos anos de correntista, e pelo saldo bancário, já fui isentada. O homem vai ao computador e diz: -- Olha só, é isso mesmo, ela sabe mais do que a gente”. (sic)

Depois de uma denúncia arrasadora, eles continuam duvidando de sua lucidez. A senhora usa de uma última cartada para se livrar dos sanguessugas: “Sou historiadora e analiso o mundo do ponto de vista macro. Pagar pouco por um Seguro não significa nada para mim, mas para o banqueiro sim. É só comparar com os impostos que todos nós pagamos. É só fazer o somatório dos contribuintes. De grão em grão a galinha enche o papo”. Porém o gerente convencido que está diante de uma “velha gagá” repete sem parar: “Mas é tão pouquinho...”

Exausta e desanimada por perder tempo e sequer conseguir informações sobre Seguro de Vida, ela resolve se retirar pensando: “Afinal quem são os verdadeiros idiotas?”

Saiu do Banco pensando sobre o poder da Ideologia. O preconceito penetra na consciência de forma subliminar, e impregna o sujeito que comete a discriminação e a auto discriminação. ´´É um embotamento das consciências. Depois de toda essa lavagem cerebral quem vai duvidar que com a idade as pessoas vão ficando fracas fisicamente, mentalmente, perdem a beleza, a sexualidade e tornam-se idiotas?

ISABELA BANDERAS
Enviado por ISABELA BANDERAS em 16/01/2024
Código do texto: T7977803
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