Dr. Nazareno

Dr. Nazareno

Adriano era um empresário bem-sucedido que vivia em constante conflito existencial e espiritual. Apesar de pertencer a uma família tradicionalmente católica, e parte de sua educação escolar ter sido em instituições com viés católico, tinha muitas dúvidas sobre a existência de uma divindade ou um ser superior. Não frequentava templos e não se imiscuía em questões religiosas, não se assumia propriamente ateu e declarava-se agnóstico, já que não possuía conhecimentos ou evidências da existência de Deus. Era partidário de uma corrente espiritual que pregava o materialismo e fazia questão de propagar, nos seus círculos sociais, ser parte do grupo das pessoas declaradas sem religião – 12% da população mundial.

Na parede de seu escritório, num quadro com moldura fina e letras douradas, destacava-se uma frase ateísta sem identificação da autoria: "Sabe o que acontece quando não se acredita em Deus?” Nada! Para justificar seu ceticismo quanto à existência Divina, comentava que conhecia várias histórias para embasar essa incredulidade, como a de um amigo evangélico que perdeu um filho vítima de um assalto no caminho da escola para casa, ao se recusar a entregar para o assaltante o seu telefone celular, presente do avô quando completou 15 anos. A partir daí viu seu amigo se desviar da religião e mudar a concepção sobre Deus. Comentava também que quando o cantor Cristiano Araújo sofreu o acidente e veio a falecer, o pai dele, João Reis, lamentou a morte do filho e questionou a existência de Deus, já que orava todos os dias pedindo a companhia e a proteção d’Ele nas viagens do Cristiano. Depois disso, passou a se perguntar: “Será que Deus existe?".

Adriano levava uma vida sedentária, trabalhava até tarde da noite, e não se alimentava de forma regular e saudável. Vida social e família ficavam em

segundo plano. Semana passada, após mais um dia de intensa atividade na empresa, passou mal: suava frio e sentia desconforto em um dos braços, bem como náuseas e vômito – sintomas de infarto. Ligou para o médico que determinou de imediato a sua internação. Chamou o SAMU – Serviço de Atendimento Médico de Urgência - que prestou os primeiros socorros e o conduziu ao hospital. Atendido com a urgência que a situação exigia, foram infrutíferas todas as tentativas de salvá-lo e, algumas horas depois, sem que os sinais vitais voltassem, a equipe médica se reuniu, chamou a família e informou:

- “ O coração não dá mais sinais de batimentos, está sem contratividade e não há mais nada que a medicina possa fazer”.

Enquanto se estava providenciando os protocolos para oficializar a sua morte, chegou a informação de que o sr. Adriano voltara a respirar. Houve correria, perplexidade e, constatado o fato, todos foram unânimes em afirmar:

- “ Só pode ser milagre de Deus! ”.

Depois que o Adriano recebeu alta, visitei-o em sua casa, estando ainda em processo de convalescência. Contou-me que depois que entrou na ambulância sua memória apagou, e somente recobrou os sentidos numa cama hospitalar, numa sala com paredes brancas, muito iluminada, onde se ouvia, em tom suave, uma música clássica que parecia ser tocada por uma harpa.

E continuou:

- “De repente entrou um senhor, que diferentemente do tradicional pijama cirúrgico na cor verde, estava vestido com uma indumentária religiosa toda branca. Na altura do seu peito esquerdo, podia-se ler: Dr. Nazareno. Colocou o estetoscópio no meu tórax, fez a auscultação dos meus batimentos cardíacos e avisou-me que as funções cardiovasculares estavam normalizadas e iria autorizar a minha alta. Senti, naquele momento, um misto de alegria e satisfação”.

Contou-me ainda que, quando estava de saída do hospital, procurou pelo Dr. Nazareno para agradecê-lo, mas fora informado de que não havia nenhum médico registrado naquele hospital com esse nome, e aí o seu sentimento foi de surpresa e comoção. Ciente do seu ceticismo e incredulidade religiosa, evitei debater o tema e fazer questionamentos sobre os tais relatos.

Ontem, recebi o convite para assistir a uma missa de Ação de Graças pela sua total recuperação. Como ele havia retomado à sua rotina profissional, fui ao seu escritório, agradecer pelo convite e externar minha satisfação em vê-lo recuperado e contemplado com uma nova oportunidade de vida.

- Você ainda tem dúvidas da existência de um ser superior?

Quis perguntar, mas recuei quando percebi que a resposta estava bem ali na frente. O mesmo quadro, com moldura fina e letras douradas, agora ostentava uma nova frase:

“ A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho" ( Salmos 119.105).

Adenildo Aquino
Enviado por Adenildo Aquino em 19/01/2024
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