PRAGA, IGNORÂNCIA E ESPERTEZA

Tenho mantido, já de longa data, o hábito de cuidar de algumas árvores do bairro onde moro, que estão atacadas pela planta conhecida como Praga de Passarinho, porque se deixar, a danada toma toda a planta, sufoca a árvore e pode leva-la à morte, e leva este nome por ter as sementes carregadas de uma árvore para a outra, pelas patinhas dos passarinhos. Até providenciei uma ferramenta própria para isto, que foi confeccionada artesanalmente, com a ajuda de um amigo. O incrível é que a tal planta, espalhada pela copa das árvores, fica até bonita, pela cor característica, num tom amarelo escuro, e que até serve para remédio, mas é tudo enganoso, pelo mal que faz à flora urbana.

É comum, nestas oportunidades, durante meu trabalho de limpeza das árvores, pessoas passarem perto, às vezes umas olham para a cena, outras não dão a mínima para o que estou fazendo, mas nunca recebi oferta de ajuda para retirar a praga.

Numa destas ações de limpeza, numa árvore em uma rua próxima à minha casa, estacionei o carro por perto, procurei ter uma visão geral do estrago feito pela praga, preparei a ferramenta e comecei a retirar os ramos, sempre tomando cuidando para não me ferir, e para isto, sempre uso um boné e óculos.

Estava lá, tirando a tal praga da árvore, quando ouço uma voz chamando: “Moço ! “

Tentei identificar de onde vinha, mas não vi ninguém, e continuou: “Moço !”

Pela insistência e tão próximo, conclui que alguém me chamava, e olhando com mais cuidado, vi que uma senhora, dentro de um carro perto de onde estava, chamava minha atenção, agora com a mão para fora, abanando, confirmando que queria perguntar algo. Ao atendê-la, e saber no que poderia ajudar, pediu se poderia arrumar uma muda daquela planta. Olhei para a árvore, e perguntei se era dela, apontando com a ferramenta, no que ela respondeu negativamente, porque queria uma muda da Praga de Passarinho, para minha surpresa.

Perguntei se ela conhecia a planta, e simplesmente informou que a achava bonita e gostaria de uma muda, para plantar em casa.

Expliquei que se tratava de uma praga, uma planta hospedeira que sugava a seiva das árvores até leva-las à morte. Surpresa com minhas informações, pediu para deixar para lá, mas continuou puxando conversa, dizendo que estava no carro aguardando a filha, que se encontrava numa casa próxima, onde tinha ido numa “consulta”, que custava R$.100,00 a hora, com uma senhora que sabia ler o futuro, já que ambas moravam numa casa grande, mas antiga, no bairro do Jabaquara, e a estada ali tinha o objetivo de saber qual a melhor hora para colocar a casa à venda, por qual valor vender e quanto tempo demoraria para ser vendida.

Questionei o quanto ela acreditava nestas coisas, e porque depositavam tanta confiança naquela senhora, e enfatizou que acreditava muito, porque aquela mulher tinha o dom de acertar “tudo, tudo, tudo” que previa, e acrescentou informação que a filha era advogada.

Desejei-lhe sorte e continuei meu trabalho de limpeza da árvore, mas já tinha perdido todo o senso de concentração e vontade, depois de ouvir aquilo.

Talvez por ser católico, e creio que outros cristãos também pensam assim, não perco tempo com esse tipo de coisa, de acreditar que alguém tenha o poder de saber o futuro de uma pessoa ou de um evento, até porque diariamente é noticiado na mídia, situações de gente caindo em golpe, tentando saber o que vai acontecer no futuro e outras coisas mais esquisitas. Mas enfim, não tenho nada com a vida de quem acredita nisto, sendo certo ou errado, mas considerando que é uma decisão tomada por gente crescida, que colha ou louros ou arque com as consequências.

Como a rua onde mora a “senhora sabe tudo”, faz parte de meu caminho de ida ao trabalho, às vezes olho para a casa, e fico pensando que talvez a tal mulher, devesse investir em descobrir os números de um sorteio da loteria, para talvez melhorar de moradia, porque com um dom destes, ficaria bilionária tirando os números da sorte e aproveitar para aplicar na Bolsa de Valores, porque saberia quais ações dariam excelentes retornos.

Ah, vá...!

...

Segue a vida...!

Janeiro de 2024

ZAINE JOSÉ
Enviado por ZAINE JOSÉ em 27/01/2024
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T7986228
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