O Diabo Comigo
Eu costumava pensar que era uma pessoa ruim.
Que o meu sofrimento era algum tipo de castigo por coisas que eu tinha feito em alguma altura da vida. Eu tenho quase vinte e nove anos de idade e achava que era a pior pessoas na Terra.
Mas eu percebi que as coisas não eram assim. Eu não sou uma pessoa ruim. Porque pessoas ruins não sofrem. Elas causam sofrimento. E eu sempre tentei evitar machucar as pessoas ao meu redor. Algo que nem sempre era possível e, com isso, surgia uma imensa culpa.
Eu sou uma pessoa boa. E, talvez, por isso as pessoas gostem de dançar em cima de mim. Com seus sapatos caros e meticulosamente limpos. O mínimo da decência antes de pisarem nas minhas costas.
De todas as vezes em que fui magoada, nenhuma delas foi causada por um inimigo. Por alguém que me odiava. Eu sempre fui magoada por aqueles que, um dia, cuidaram de mim. Por aqueles que me faziam juras de amor e companheirismo pela frente e me apunhalavam pelas costas.
Ultimamente, a maldade está ficando mais escancarada. Não existe mais vergonha em me ofender ou humilhar. Só existe a coragem de olhar nos meus olhos e me ridicularizar.
Minha segurança e autoestima destruídas por aqueles que costumavam me elogiar. Por aqueles que costumavam me abraçar e acalentar meu pranto. Mentirosos. Falsos. Peçonhentos. Tóxicos.
Como conseguem ficar tão perto de mim, e por tanto tempo, se me odeiam tanto assim?
O inferno são os outros, realmente.